Raul Seixas é um fenômeno curioso. Nas conversas “sérias” sobre a MPB não é comum ouvir algo sobre ele. Via de regra, as análises recaem sobre a obra de Caetano Veloso, de Chico Buarque e de alguns outros poucos compositores. Por outro lado, o apelo popular de Raul Seixas é impressionante. Virou grito de guerra em qualquer lugar onde haja música ao vivo (toca Raul!) e tem o seu público em constante processo de renovação. É muito expressivo o número de fãs que eram crianças ou mesmo nem haviam nascido quando ele morreu, em agosto de 1989.
Devo
dizer que eu não ouvia Raul com muita frequencia quando ele morreu.
Em 1989 eu tinha 11 anos de idade e ainda não era um grande
consumidor de música. Deveria ter uma ou duas fitas em casa com
músicas dele. Mais tarde, ali por 1992, comecei a ouvir
sistematicamente, a colecionar seus discos (em LP e, logo depois, em
CD).
Mais
importante do que isso, comecei a rastrear algumas das referências
que estavam espalhadas por suas composições. A partir de suas
músicas, me interessei por cinema antigo, literatura e rock and
roll, de todas as gerações. De “O dia em que a Terra parou” a
Bob Dylan, do Bhagavad Gita a Luiz Gonzaga, passando por Elvis,
Beatles, pelos beats e pelos hippies. Raul foi uma excelente porta de
entrada para a cultura pop e de algum modo, um apoio importante para
alguém que se sentia tão sozinho quando eu. Em função de
Raulzito, li muito, ouvi muita música, fiz amigos por
correspondência, criei um Fanzine (eram 12 páginas, escritas por
mim, xerocado e enviado pelo Correio) e cheguei ao ponto de escrever
para a sua mãe (o mais interessante, ela respondeu a minha carta).
Assistir
ao documentário “Raul: o início, o fim e o meio” me fez, por
duas horas, passar um pouco da minha adolescência a limpo. Achei o
documentário muito bem montado. Não é apelativo, não explorou
excessivamente o aspecto por assim dizer trágico de sua
personalidade. Alcoólatra e cocainômano, Raul daria margem para um
grande programa de desgraças ao sabor da mídia televisiva. Esses
temas não foram tangenciados, mas também não ocupam um espaço
excessivo na história que o diretor estava disposto a narrar.
Acima
de tudo, o que se vê ali é um artista, extremamente criativo,
muitas e muitas vezes mal compreendido. Suficientemente inteligente
para querer mudar o mundo e suficientemente anárquico para saber que
isso não era possível. Francamente, pensando em tudo isso, tenho
certa pena de quem nunca foi patético. Absolutamente patético.
Éder, tudo blz?
ResponderExcluirLegal que gostou do documentário. Nem comprei ainda pensando que seria do tipo "o cara era drogado e por isso pensava diferente".
Entre em contato: opus666@gmail.com
Abs!
Julio Cesar Schmidt