Tenho
uma pequena lista de coisas à espera de um comentário aqui no Blog.
Dentre elas, uma saltou na frente, furou a fila e ganhou (como
louvor) a vez: o show “Caixa de Ódio”, de Arrigo Barnabé.
Arrigo,
Paulo Braga e Sergio Espíndola já haviam passado pelo StudioClio há
alguns meses, apresentando esse particularíssima interpretação de
alguns clássicos de Lupicínio Rodrigues. Para minha alegria, trouxa
que sou não havia conseguido vê-los na sua primeira passagem pela
cidade do Grêmio e do Lupi, voltaram com a corda toda. E que belo
show! Arrigo Barnabé e seus brilhantes companheiros de palco deram
uma roupagem saborosíssima aos petardos, carregados de
ressentimento, do grande Lupicínio.
Um
detalhe interessante sobre as interpretações das canções de
Lupicínio. Em uma apresentação de “Caixa de Ódio”, veiculada
pela TV Cultura, Arrigo afirmou que não era um cantor, mas uma
espécie de ator. Arrigo, que se iniciou musicalmente na música
erudita, nunca abandonou o laboratório da composição, que é onde
ele parece se sentir totalmente à vontade. Nos anos 70, abraçou a
cultura pop da época, misturando literatura pulp, quadrinhos e rock
n' roll, os encharcou de dodecafonismo, Bartok, Stockhausen e outras
mumunhas e criou Clara Crocodilo. Nos anos 80, seguiu fazendo
experiências musicais com a chamada vanguarda paulista. Ou seja,
sempre cantou, mas isso deve ser visto por ele como um meio de
dialogar a sua peculiaríssima mistura do pop com o erudito.
Dito
isso, é preciso considerar que ele cantou e muito. A sua
interpretação é carregada de ironia e veneno. Mas definitivamente
não vai na mesma linha dos grandes intérpretes de Lupicínio, sobre
todos pairando a figura de Jamelão. O lance é outro. Ou não.
O
que os três apresentaram no StudioClio foi música e além disso,
uma interpretação das composições de Lupicínio que valorizam as
suas crônicas dos amores desfeitos, da traição, da inveja e da
dor. E o polumético Arrigo, de modo muito inteligente, faz com que
isso não soe brega. A sua verve irônica recupera todo o cinismo
presente nas letras do Lupicínio, sem se levar a sério em demasia.
É, pari passu a todas as virtudes musicais, um show muito divertido.
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