segunda-feira, 14 de maio de 2012

A alegria é a prova dos nove


Tenho uma pequena lista de coisas à espera de um comentário aqui no Blog. Dentre elas, uma saltou na frente, furou a fila e ganhou (como louvor) a vez: o show “Caixa de Ódio”, de Arrigo Barnabé.

Arrigo, Paulo Braga e Sergio Espíndola já haviam passado pelo StudioClio há alguns meses, apresentando esse particularíssima interpretação de alguns clássicos de Lupicínio Rodrigues. Para minha alegria, trouxa que sou não havia conseguido vê-los na sua primeira passagem pela cidade do Grêmio e do Lupi, voltaram com a corda toda. E que belo show! Arrigo Barnabé e seus brilhantes companheiros de palco deram uma roupagem saborosíssima aos petardos, carregados de ressentimento, do grande Lupicínio.


Um detalhe interessante sobre as interpretações das canções de Lupicínio. Em uma apresentação de “Caixa de Ódio”, veiculada pela TV Cultura, Arrigo afirmou que não era um cantor, mas uma espécie de ator. Arrigo, que se iniciou musicalmente na música erudita, nunca abandonou o laboratório da composição, que é onde ele parece se sentir totalmente à vontade. Nos anos 70, abraçou a cultura pop da época, misturando literatura pulp, quadrinhos e rock n' roll, os encharcou de dodecafonismo, Bartok, Stockhausen e outras mumunhas e criou Clara Crocodilo. Nos anos 80, seguiu fazendo experiências musicais com a chamada vanguarda paulista. Ou seja, sempre cantou, mas isso deve ser visto por ele como um meio de dialogar a sua peculiaríssima mistura do pop com o erudito.

Dito isso, é preciso considerar que ele cantou e muito. A sua interpretação é carregada de ironia e veneno. Mas definitivamente não vai na mesma linha dos grandes intérpretes de Lupicínio, sobre todos pairando a figura de Jamelão. O lance é outro. Ou não.

O que os três apresentaram no StudioClio foi música e além disso, uma interpretação das composições de Lupicínio que valorizam as suas crônicas dos amores desfeitos, da traição, da inveja e da dor. E o polumético Arrigo, de modo muito inteligente, faz com que isso não soe brega. A sua verve irônica recupera todo o cinismo presente nas letras do Lupicínio, sem se levar a sério em demasia. É, pari passu a todas as virtudes musicais, um show muito divertido.   

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