quarta-feira, 2 de maio de 2012

Disseram que eu voltei americanizada...

O cineasta Fernando Meirelles, ao receber uma homenagem Cine PE - Festival do Audiovisual, resolveu, por assim dizer, chorar as mágoas. Segundo ele não vale a pena produzir cinema no Brasil, uma vez que a resposta de público é muito pequena. Tudo por conta da audiência de Xingú, filme dirigido por Cao Hamburger e por ele produzido.

Dos extratos reproduzidos de sua fala, o que chamou a minha atenção foi a sua leitura do público de cinema no país. Disse ele: “Nós temos uma classe C nova que não ia ao cinema antes e esse pessoal é formado no audiovisual pela TV. Então hoje a gente vive uma realidade de filmes que poderiam estar na TV e estão nas telas”.

Acho que há um misto de ingenuidade e de preconceito em sua fala. E veja bem, desavisado leitor, não acho que falar mal das opções estéticas das classes c, d, e... seja um pecado, punível com chicote. O erro está em acreditar que o, digamos, mau gosto, é um privilégio das classes menos favorecidas e/ou “emergentes”. Convenhamos, o Brasil é absurdamente democrático nesse aspecto. Há mau gosto em todas as classes.

A constatação de que há todo um segmento de público que é formado pela estética da telenovela é velha como a Sé de Braga. Pergunto: no Brasil, qual o percentual das pessoas não é formado pelo audiovisual? Será mesmo que o público que lotou as salas do país para assistir “Cidade de Deus” era somente formado por cinéfilos? Frequentadores de cineclube? Fãs de Godard? Ora, é óbvio que não.

Cá entre nós, "Cidade de Deus" é um filme banal. Um clipe da MTV com duas horas de duração que caiu no gosto popular rapidamente, chegando a ser convertido em uma série pela Globo, sob o nome de “Cidade dos Homens”. É um filme, digamos, competente. Comparado com certas coisas produzidas pelo Jorge Furtado ou pelo Carlos Gerbase, ele pode até mesmo ser elevado aos mais altos patamares do cinema nacional. Partindo de critérios absolutos, no entanto, sempre me parece coisa de publicitário descoladinho.

Confesso que desse papo todo que rolou na rede sobre a fala do Meirelles, a única informação que me tranquilizou foi o engavetamento do projeto de levar à telas "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa.

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