quinta-feira, 29 de abril de 2010

Plágio não!


Nem só de bobagens vive a internet, isso já é sabido há muito tempo. No entanto, do alto de meu ceticismo, não podia imaginar que encontraria uma jóia rara como o blog “Não gosto de plágio”. Editado por Denise Bottmann, tradutora de obras e autores importantes como Marguerite Duras, Giulio Carlo Argan, Peter Gay, e poderíamos seguir muito adiante, pois a lista é longa, “Não gosto de plágio” é uma verdadeira trincheira aberta em defesa daqueles que gostam de literatura e de profissionais da área, como os tradutores.
Ali, corajosamente, são demonstradas a sinecura e a má-fé de diversas “editoras” como Martin Claret e outras tantas. São comparadas as edições atuais de obras clássicas, em geral com direitos vencidos, com as edições mais antigas. Cópias idênticas, sem cuidado algum, tradutores “laranja” e outras picaretagens que fariam Al Capone parecer um amador.
Imagino que o off do blog seja muito interessante. Editores desmascarados devem berrar, e muito. Mas seguramente Denise poderá contar com a classe política brasileira, que, pelo amor ao conhecimento que sempre alimentou, irá apoiar iniciativas como a sua com políticas públicas que punam os malandros e apoiem os justos...
De nossa parte, de todos, o que importa é divulgar esse extraordinário trabalho. Ver:

http://naogostodeplagio.blogspot.com/

terça-feira, 27 de abril de 2010

Paladas de Alexandria

Paladas de Alexandria (360 a 430 ou 316 a ?), grego do período de decadência da cultura clássica, é um dos testemunhos mais vivos da transição do mundo antigo, sendo ele poeta e epigramista pagão de uma deliciosa veia satírica. Se fosse o caso, diria que por conta de sua verve ferina é um dos meus autores preferidos. Há na sua ironia e em suas frases de humor rascante um sentimento de perda, uma vez que ele via ruir um universo de referências frente a intolerância dos cristãos do século IV e V, com sua fúria destruidora de símbolos do paganismo.
Não sou classicista, então não pretendo me espichar em notas sobre Paladas. Recomendo vivamente a leitura de: Paladas de Alexandria. Epigramas. São Paulo: Nova Alexandria, 2001. Edição bilíngue de epigramas selecionados e traduzidos pelo grande José Paulo Paes, acrescida de um belo ensaio introdutório ao tema. Abaixo, algumas passagens de Paladas:

1.
Acaso estamos mortos e só aparentamos
estar vivos, nós gregos caídos em desgraça,
que imaginamos a vida semelhante a um sonho,
ou estamos vivos e foi a vida que morreu?

2.
Ouro, pai dos aduladores, filho da aflição e do cuidado,
não te possuir dá medo e possuir-te aflição

3.
A filha do gramático ajuntou-se e teve uma criança
do gênero masculino, feminino e neutro.

4.
Se lembrares, homem, como foste por teu pai gerado,
esquecerás as idéias de grandeza.
Platão, o sonhador, encheu tua cabeça de empáfia
ao te chamar de imortal, planta celeste.
De barro és feito; por que a presunção? Só fala assim
quem se compraz em fingimentos vistosos.
Mas se buscas a verdade, recorda que vieste de um
ato de luxúria e de uma gota suja.

5.
Quem por desgraça se casou com mulher feia
vê o escuro da noite quando acende as lâmpadas.

6.
Melhor louvar, a repreensão sempre traz inimizade.
Falar mal todavia é puro mel ático.

domingo, 4 de abril de 2010