domingo, 24 de julho de 2011

Pola Oloixarac


Assisti outro dia uma entrevista da nova queridinha da literatura latino-americana, Pola Oloixarac. Afetada, marqueteira e pelo que vi, burra de dar dó, a moça capricha no visual e vem com um papinho que podemos encontrar facilmente em qualquer barzinho bicho grilo. A entrevista foi constrangedora tanto pela pose da escritora quanto pela atitude do entrevistador que escorria em superlativos ao falar de seu livro.

Entre um bloco de perguntas e respostas e outro, era lidos alguns trechos de "As teorias selvagens". A primeira coisa que me ocorreu foi: se esses são os pontos altos, imagina o que o resto me reserva.
Sem querer julgar rápido demais, fui à Livraria Cultura, peguei o livro e pedi um expresso duplo. Antes de o café me deixar com queimação no estômago, a prosa emPolada (sorry...) de "As teorias selvagens" fez o serviço.

Lugares comuns, caricaturas baratas dos "intelectuais" que aparecem em sua trama, tudo isso com cheiros de filosofia pop tornam o todo bastante enfadonho. A "espiada" que dei na sua obra já fez com que eu me sentisse totalmente liberado do "compromisso" de lê-la com maior atenção, até porque a lista de obras para serem lidas antes da mais nova candidata a queridinha dos suplementos de cultura dos jornais de grande circulação é extensa. Fiquei satisfeito ao ver que ao menos um crítico aponta, em seu comentário, para a mesma direção. Colo abaixo um pedaço do texto de Luciano Trigo sobre a Flip e, mais especificamente, sobre a "hermana".

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"Se no ano passado a cubanita Wendy Guerra foi apontada como sex symbol, em 2011 a musa anunciada foi a argentina Pola Oloixarac. No quesito sedução, cheia de olhares e bocas e pernas cruzadas e risinhos e da falsa timidez de quem se acha muito gostosa com seu batom vermelho e suas mechas, bem, dá para dizer que ela cumpriu seu papel. Mas ao abrir a boca, na mesa que dividiu com o angolano – este sim escritor, este sim cativante – Walter Hugo Mãe, Pola deixou a desejar. Incapaz de articular um pensamento completo, mas pretensiosa a ponto de citar Kant, com o olhar sempre em busca da câmera, ela parecia mais preocupada em ser vista nos telões por um bom ângulo do que em dizer coisas inteligentes. Pelo ângulo literário ela não se destacou. Se essa tendência continuar no ano que vem, melhor chamar logo a Larissa Riquelme." (http://g1.globo.com/platb/maquinadeescrever/2011/07/09/pilulas-sobre-a-flip/)

sábado, 2 de julho de 2011

Oscar Wilde


A melhor maneira de começar uma amizade é com uma boa gargalhada. De terminar com ela, também. Oscar Wilde

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Shakespeare Furtado


Confesso que não curto muito o cinema de Jorge Furtado. E nem falo dos curtas mais antológicos, como "O dia em que Dorival encarou a guarda" ou "A Ilha das Flores, verdadeiro xodó dos professores de sociologia. Ambos são bem interessantes, inauguram a sua linguagem cinematográfica e blá blá blá. Falo dos longas. Assisti "O homem que copiava e não achei nada demais". Ainda assim, há uma pequena referência aos Sonetos de Shakespeare que de certa forma amarra a relação amorosa dos protagonistas.
O cineasta é um grande apreciador da obra do bardo. Juntando peças, dei de cara com um comentário muito interessante em um blog sobre as traduções orientadas por ele dos Sonetos e fui ver o livro. Gostei, confesso. Já havia visto uma tradução dele para "Alice", também bastante boa. Seu bom gosto literário me leva a assistir os seus filmes. Vou encarar e depois comento aqui. Em homenagem, reproduzo abaixo três versões para o mesmo soneto, duas do Furtado e uma de outro tradutor. Gosto muito das duas do Furtado. Ah, vale dizer que a comparação não é uma idéia minha, é coisa do blogueiro onde li pela primeira vez a resenha da tradução. Simplesmente reproduzo para os milhões de leitores deste blog.
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Farto de tudo, clamo a paz da morte
Ao ver quem de valor penar em vida
E os mais inúteis com riqueza e sorte
E a fé mais pura triste ao ser traída
E altas honras a quem vale nada
E a virtude virginal prostituída
E a plena perfeição caluniada
E a força, vacilante, enfraquecida
E o déspota calar a voz da arte
E o néscio, feito um sébio, decidindo
E o todo, simples, tido como parte
E o bom a mau patrão servindo
Farto de tudo, penso, parto sem dor
Mas se partir, deixo só o meu amor
(Soneto nº 66 por Jorge Furtado, p.82)

De saco cheio, mando tudo às picas
Ao ver só gente boa se ferrando
E as mais escrotas rindo à toa, ricas
E as crentes, puras, só no cú levando
E prêmios dados a um monte de bostas
E virgens puras pagando boquetes
E a perfeição xingada pelas costas
E os fortões entubando croquetes
E a cultura virar supositório
E a chusma de imbecis cagando regras
O bom e simples tido por simplório
O mal triunfa e o bem toma nas pregas
De saco cheio, vão todos se fuder!
Só o que eu não posso é meu amor perder
(Soneto nº 66 por Jorge Furtado, p.83)

Farto de tudo, imploro a morte sossegada
Quando vejo o valor vestido como um pobre
E com luxo trajado o miserável nada,
E perjurada, por desgraça, a fé mais nobre,
E vergonhosamente a honra mal situada,
E a virginal virtude em lama prostituída,
E por coxo exercício a força invalidada,
E a justa perfeição do apreço decaída,
E julgando a perícia a doutoral tolice,
E atando a língua da arte o arbítrio oficial,
E a mais simples verdade achada parvoíce,
E o bem seguindo preso o comandante mal:
Farto, eu queria estar já morto e descansado,
Se não deixasse o meu amor abandonado.
(Soneto nº 66 por Péricles Eugênio)
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Fiz essa postagem no dia 24/06 e aproveito para emendá-la. Meu amigo Nathaniel oportunamente me lembra que não coloquei o original no corpo da mensagem e enviou o mesmo em seu comentário. Puxo o poema do bardo para o corpo da mensagem e agradeço a lembrança. (27/06)

SONNET 66

Tired with all these, for restful death I cry,
As, to behold desert a beggar born,
And needy nothing trimm'd in jollity,
And purest faith unhappily forsworn,
And guilded honour shamefully misplaced,
And maiden virtue rudely strumpeted,
And right perfection wrongfully disgraced,
And strength by limping sway disabled,
And art made tongue-tied by authority,
And folly doctor-like controlling skill,
And simple truth miscall'd simplicity,
And captive good attending captain ill:
Tired with all these, from these would I be gone,
Save that, to die, I leave my love alone."

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um papo sobre ciência e religião

Há algum tempo postei uma entrevista do Michel Onfray sobre o seu "Tratado de Ateologia" aqui no blog. Como tenho feito, coloquei um link no meu perfil do Facebook para o Blog. Por algum motivo estranho, ao invés do debate ficar registrado aqui no Blog, dois dos meus amigos preferiram fazer um bate bola sobre o assunto no Facebook.
Como gostei muito do resultado da prosa deles, resolvi colar aqui. São duas pessoas muito inteligentes, com formações e pontos de vista que convergem em alguns pontos e divergem em outros, sempre de maneira direta e elegante. Aos curiosos seguem as intervenções. Fiquem à vontade para fazer as suas.
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NF - Eagleton, o principal autor do "cultural studies" (do qual gosto muito), fez do neo-ateísmo seu tema no Fronteiras do Pensamento 2010 (http://www.unimedpoa.com.br/mkt/resumo_fronteiras_090810.pdf)Me considero ateu convicto, mas acho que há necessidade de relativizar o ateismo como discurso (pois alguns, como Dawnkins, autor que também gosto muito, tem a limitação de achar que é o portador de uma verdade inabalável).

ES - Acho que autores como o Dawkins, o Sam Harris (excelente) e o Hitchens são muito importantes pela força com que entraram na discussão. Confesso que gosto menos do Eagleton, que é neo-cristão e vê no ateísmoum ataque do imperialismo sobre o mundo. Concordo que o visão de ciência do Dawkins é bastante dura, mas ele se sai muito bem nesse debate.

TSR - O Richard Dawkins é dogmático demais, determinista demais. Radiicalismo gera radicalismo. Neste sentido, o livro "Deus, um delírio" me pareceu meio fanático. Eu compreendo todo atraso que a "religião" causou, mas não se pode pagar com a mesma moeda "cientificamente".

NF - É algo complexo, Taís, pois eu sou baita fã de Dawkins e vivo citando várias idéias suas. Para mim, a religião realmente é um vírus mental que deve ser eliminado, e o discurso científico, ainda que seja falho, levanta-se no campo agonístico... dos discursos como o mais propenso a substituí-lo. Os argumentos do neo-evolucionismo muito me agradam e o livro "Deus- Um Delírio" me possibilitou dar palavras para muitas coisas que eu pensava e não conseguia explicar. Acredito no respeito as diferenças e a intolerância de Dawkins me parece parece um pouco ditatorial, fora que ele deposita suas fichas no discurso científico como A Verdade Inabalável. Ainda assim, acho, como nosso caro professor, que a figura dele e de outros intelectuais ateus na mídia e de fundamental importância para dizer que a religião não é especialista em nada, é intolerante e cega, mete-se em assuntos dois quais mal compreende (como o aborto, células-tronco, legitimação dos movimentos homossexuais) e leva milhões a sandices que só servem para continuar propagando limitações e preconceitos. Ainda que eu ache que o discurso cientificista pregado pelos os ateus (e eu me incluo de certa forma nesse grupo) exagerado, necessitando ser relativizado quando suas pretenções totalizantes, numa discussão em que eu tenha que tomar uma posição, eu fico com os ateus, pois pelo menos com estes há discussão! O discurso científico, com suas limitações, baseia-se em argumentos e aceita o embate, coisa que na religião não existe, por tanto, eu não acho Dawkins "dogmático". Um Racionalista Totalitário, talvez? =D

TSR - Eu entendo, Nathanael o teu ponto de vista, mas já "acreditei" mais na ciência, atualmente tenho mais certeza de que ela é muito limitada em dar explicações sobre o que há entre o céu e a terra, mas não sou religiosa e sou contra o reducion...ismo científico. A nossa incapacidade de medir(estatisticamente) os efeitos, fenômenos, testar hipóteses nos coloca (nós, pretensos cientistas) em xeque todos os dias. Como medir o imensurável como a dor, o sentimento, a felicidade, a democracia, a liberdade. Enquanto isso eu me distraio acreditando que um dia resolveremos esssa charada, mas acho que a religião não é única vilã. Ah tenho minhas dúvidas sobre a capacidade de discussão dos ateus... tu iamginas, por exemplo alguém debatendo de igaul para igual com alguém que almenos respeita a religiosidade, o esse cara não seria ridicularizado no meio ateu, assim como o ateu seria banido do meio religioso. A ciência pressupoe neutralidade MESMO, senão teus resultados serão cheios de vieses, os números tratam diferetes como iguais e seguimos o debate.

ES - Caros Taís e Nathaniel devo confessar que o debate que vamos travando por aqui subverte a lógica fútil do Facebook. O mais interessante é o seguinte dado: a Taís é uma cientista praticante, doutoranda em medicina que se mostra mais reticent...e ao discurso cientificista autoconfiante de Dawkins e Cia do que o Nathaniel e eu, que somos historiadores, o que não deixa de ter lá a sua razão, porque lida com o lado trágico da existência de maneira real e intensa. Digo isso de maneira muito sincera, talvez o nosso ceticismo se manifeste mais facilmente por a nossa posição ser mais confortável. O importante dessa discussão é que acredito ser possível discutir temas de fundo, como a ética, a vida, a morte, deixando de lado muitas das convenções às quais o Nathaniel faz referência. Acredito sinceramente que o pensamento religioso é um dos maiores problemas com os quais podemos nos debater hoje, tanto que meu projeto de pesquisa atual é “Ciência e religião”.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O ateísmo de Michel Onfray


A entrevista de Michel Onfray que segue abaixo foi publicada pela Revista Veja em 2005, ano em que ele publicava seu "Tratado de Ateologia" (diga-se, um belo livro). Por mais que eu não goste da Veja, essa entrevista merece ser lida e discutida.
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Revista Veja
Edição 1906 . 25 de maio de 2005

Entrevista: Michel Onfray
"Deus está nu"

O filósofo francês mais lido da atualidade
diz que as três grandes religiões monoteístas
vendem ilusões e devem ser desmascaradas
como o rei da fábula de Andersen


André Fontenelle

Em um tempo em que a religiosidade está em alta, surpreende o livro que se encontra no topo da lista dos mais vendidos na França desde o mês passado, à frente até das biografias de João Paulo II: Tratado de Ateologia. Escrita pelo filósofo mais popular da França na atualidade, Michel Onfray, de 46 anos, a obra é um ataque pesado ao que o autor classifica como "os três grandes monoteísmos". Segundo Onfray, por trás do discurso pacifista e amoroso, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo pregam na verdade a destruição de tudo o que represente liberdade e prazer: "Odeiam o corpo, os desejos, a sexualidade, as mulheres, a inteligência e todos os livros, exceto um". Essas religiões, afirma o filósofo, exaltam a submissão, a castidade, a fé cega e conformista em nome de um paraíso fictício depois da morte.

Para defender essa argumentação, Onfray valeu-se de uma análise detalhada dos textos sagrados, cujas contradições aponta ao longo de todo o livro, e do legado de outros filósofos, como o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que proclamou, em uma célebre expressão, a "morte de Deus". O filósofo escreve em linguagem acessível, a mesma que emprega ao lecionar na cidade de Caen, no norte da França. Ali criou uma "universidade popular" que atrai milhares de pessoas a palestras diárias e gratuitas sobre filosofia, artes e política. Gravadas pela rádio pública France Culture, as aulas de Onfray são sucesso de audiência. Os fãs o consideram um sucessor de Michel Foucault (1926-1984), o mais influente filósofo francês do século passado. Em seus livros, Onfray propõe o que chama de "projeto hedonista ético", em que defende o direito do ser humano ao prazer. Uma de suas obras, A Escultura de Si, ganhou em 1993 o Prêmio Médicis, o mais importante da França para jovens autores. Onfray também tem detratores, que o acusam de repetir idéias ultrapassadas. Em dois meses seu Tratado vendeu 150.000 exemplares. De seu escritório em Argentan, Onfray concedeu a seguinte entrevista a VEJA.

Veja – Em sua opinião, só o ateu é verdadeiramente livre?
Onfray – Só o homem ateu pode ser livre, porque Deus é incompatível com a liberdade humana. Deus pressupõe a existência de uma providência divina, o que nega a possibilidade de escolher o próprio destino e inventar a própria existência. Se Deus existe, eu não sou livre; por outro lado, se Deus não existe, posso me libertar. A liberdade nunca é dada. Ela se constrói no dia-a-dia. Ora, o princípio fundamental do Deus do cristianismo, do judaísmo e do Islã é um entrave e um inibidor da autonomia do homem.

Veja – A que o senhor atribui o sucesso de seu livro num momento em que há tanta discussão sobre religiosidade?
Onfray – Acho que muitos franceses esperavam uma declaração claramente atéia. As primeiras páginas de jornais e as capas de revistas sobre o retorno da religiosidade, a polêmica sobre o direito de usar ou não o véu muçulmano na escola leiga, a oposição maniqueísta entre um eixo do bem judeo-cristão e um eixo do mal muçulmano, a obrigação de escolher um lado entre George W. Bush e Osama bin Laden, a religiosidade dos políticos exposta na imprensa, o crescimento do Islã nos subúrbios franceses, tudo isso contribuiu para uma presença monoteísta forte no primeiro plano da mídia. Meu livro provavelmente funciona como um antídoto a esse estado de coisas, pelo menos na França. Ele ainda está sendo traduzido para outros idiomas.

Veja – Seu livro defende um ateísmo "fundamentado, construído, sólido e militante". Isso quer dizer que é preciso convencer as pessoas da inexistência de Deus?
Onfray – Isso quer dizer que, quando uma pessoa não se contenta apenas em acreditar estupidamente, mas começa a fazer perguntas sobre os textos sagrados, a doutrina, os ensinamentos da religião, não há como não chegar às conclusões que eu proponho. Trata-se de não deixar a razão, com R maiúsculo, em segundo plano, atrás da fé – e sim dar à razão o poder e a nobreza que ela merece. Essa é a missão, a tarefa e o trabalho do filósofo, pelo menos de todo filósofo que se dê ao respeito.

Veja – A desconstrução dos três grandes monoteísmos equivale a mostrar que o rei está nu, como na fábula de Hans-Christian Andersen?
Onfray – Sim. É preciso mostrar que o rei está nu, deixar claro que o mecanismo das religiões é o de uma ilusão. É como um brinquedo cujo mistério tentamos decifrar quebrando-o. O encanto e a magia da religião desaparecem quando se vêem as engrenagens, a mecânica e as razões materiais por trás das crenças.

Veja – O senhor cita constantemente trechos do Corão, da Bíblia e da Torá para apontar contradições. Por que razão, se em muitos casos esses trechos nem são mencionados pelos religiosos na defesa de suas convicções?
Onfray – Os sacerdotes limitam-se a usar apenas um punhado de palavras, textos e referências, sempre postos em evidência porque são aqueles trechos que permitem assegurar melhor o domínio sobre os corpos, os corações e as almas dos fiéis. A mitologia das religiões precisa de simplicidade para se tornar mais eficaz. Elas fazem uma promoção permanente da fé em detrimento da razão, da crença diante da inteligência, da submissão ao clero contra a liberdade do pensamento autônomo, da treva contra a luz.

Veja – Seu livro cita contradições entre a pregação da paz e a da violência. O senhor pode dar os exemplos mais marcantes dessa situação?
Onfray – O famoso sexto mandamento da Torá ensina: "Não matarás". Linhas abaixo, uma lei autoriza a matar quem fere ou amaldiçoa os pais (Exodo 21:15 e adiante). Nos Evangelhos, lê-se em Mateus (10:34) a seguinte frase de Jesus: "Não vim trazer a paz, e sim a espada". O mesmo evangelista afirma a todo instante que Jesus traz a doçura, o perdão e a paz. O Corão afirma que "quem matar uma pessoa sem que ela tenha cometido homicídio será considerado como se tivesse assassinado toda a humanidade" (quinta sura, versículo 32). Mas ao mesmo tempo o texto transborda de incitações ao crime contra os infiéis ("Matai-os onde quer que os encontreis", segunda sura, versículo 191), os judeus ("Que Deus os combata", nona sura, versículo 30), os ateus ("Deus amaldiçoou os descrentes", 33ª sura, versículo 64) e os politeístas ("Matai os idólatras, onde quer que os acheis", nona sura, versículo 5).

Veja – O livro ataca com virulência particular o apóstolo Paulo, descrevendo-o como um histérico. Por quê?
Onfray – Basta ler os Atos dos Apóstolos, nos trechos que descrevem a conversão de Paulo, e conhecer um pouco de psiquiatria, ou ter um manual de psicologia ao alcance da mão, para ver quanto os sintomas da visão que originou sua conversão coincidem com os descritos pelos especialistas em histeria: perda de tônus muscular, queda, cegueira momentânea etc. Ao me referir a Paulo, eu não emprego o termo neurose como um insulto de caráter moral, mas como um diagnóstico que pode ser estabelecido por um psiquiatra.

Veja – Há uma diferença entre ser contra as religiões e não acreditar na existência de Deus?
Onfray – É possível acreditar em Deus e viver sem religião. Mas não conheço religião que viva sem Deus. Trata-se do mesmo combate, verso e reverso da mesma medalha.

Veja – Mas não são poucos os que sustentam que a necessidade de Deus é inerente ao ser humano. Há quem acredite que essa necessidade é genética.
Onfray – Essa necessidade é cultivada culturalmente. É claro que não existe. Muito menos geneticamente. Essa é uma idéia ridícula. Não há nada no cérebro além daquilo que é posto nele. Já se viu alguma criança – imagem do que pode haver de mais natural – nascer acreditando em algum deus ou em alguma transcendência? Deus e a religião são invenções puramente humanas, assim como a filosofia, a arte ou a metafísica. Essas criações, é bem verdade, respondem a necessidades, como a de esconjurar a angústia da morte, mas podemos reagir de outra forma: por exemplo, com a filosofia.

Veja – Como o senhor explica o fato de muitos cientistas, diante da impossibilidade de explicar a imensa complexidade do universo, se voltarem para a hipótese da criação divina?
Onfray – O recurso a Deus e à transcendência é um sinal de impotência. A razão não pode tudo. Deve ser consciente de suas possibilidades. Quando ela não consegue provar alguma coisa, é preciso reconhecer essas limitações e não fazer concessões à fábula, ao pensamento mitológico ou mágico. A idéia da criação divina é uma espécie de doença infantil do pensamento reflexivo.

Veja – Como filósofo ateu, como o senhor viu a forte comoção popular pela morte do papa?
Onfray – Tamanho fervor deve ser relacionado com o fato de que João Paulo II foi de fato o primeiro "papa catódico", o primeiro sumo pontífice da era da comunicação de massa. Foi o homem mais filmado do planeta. Logo, era o maior portador da aura que a mídia confere. A maioria das pessoas tem fascínio pelos ícones eleitos pela mídia e acredita mais neles do que na verdade física. Daí a estranha sensação quando a TV prova que por trás daquela imagem divinizada havia alguém bem real, de carne e osso. Isso ficou demonstrado, na morte do papa, pelo uso espetaculoso da exposição do cadáver e pela criação de uma reação histérica entretida e amplificada pela transmissão televisiva.

Veja – O senhor retoma casos recentes e antigos em que o papel da Igreja Católica não foi dos melhores: ataques a Galileu, silêncio diante do holocausto ou do genocídio em Ruanda. Mas é possível encontrar outros tantos exemplos de bons momentos do catolicismo. Isso não mostra que o problema não são as religiões e sim os homens que as interpretam?
Onfray – Não me proponho a escrever uma resposta ao livro O Gênio do Cristianismo (obra de 1802 do escritor francês François-René de Chateaubriand, que refutava os filósofos anti-religiosos de seu tempo). O que quero é mostrar que as religiões, que dizem querer promover a paz, o amor ao próximo, a fraternidade, a amizade entre os povos e as nações, produzem na maior parte do tempo o contrário. Não me parece muito digno de interesse que os monoteísmos possam ter gerado o bem aqui ou acolá. Afinal, é a isso mesmo que eles dizem se propor. Não há motivo para espanto. Em compensação, que se devam a eles tantas barbaridades terrenas, extremamente humanas, me parece muito mais importante como prova da inanidade das doutrinas.

Veja – Críticos católicos alegam que seu livro nada fez senão repetir antigos argumentos contra a religião. Quais são seus argumentos novos?
Onfray – Não se pode fazer muito a respeito, a não ser dizer e redizer o que é verdade há muito tempo. E repetir que os cristãos têm pouca moral para me reprovar por dizer antigas verdades, quando eles mesmos propagandeiam erros ainda mais antigos.

Veja – Não se pode negar que a religião proporciona valores morais e éticos a muitas pessoas que de outra forma não os teriam. Isso, por si, não bastaria para justificar a existência das religiões?
Onfray – Se não houvesse alternativa, certamente. Mas há. A filosofia permite a cada um a apreensão do que é o mundo, do que pode ser a moral, a justiça, a regra do jogo para uma existência feliz entre os homens, sem que seja preciso recorrer a Deus, ao divino, ao sagrado, ao céu, às religiões. É preciso passar da era teológica à era da filosofia de massa.

Veja – O senhor acha que um dia o mundo será predominantemente ateu?
Onfray – Não. A fraqueza, o medo, a angústia diante da morte, que são as fontes de todas as crenças religiosas, nunca abandonarão os homens. Por outro lado, é preciso que alguns espíritos fortes, para usar uma expressão do século XVII, defendam as idéias justas. A questão é converter novos espíritos fortes. Só isso já seria muita coisa.

Veja – Quando e como o senhor se tornou ateu?
Onfray – Até onde consigo me lembrar, sempre fui ateu, a não ser na infância, quando acreditava na mitologia católica como se acredita em Papai Noel ou nas lendas do folclore. A história contada pelo catolicismo tem tanto valor quanto essas. Está no mesmo nível dos contos da carochinha, em que os animais conversam e os ogros comem criancinhas. Assim que um embrião de razão habitou meu espírito, não me importei mais com esse pensamento mágico – que só serve, justamente, para as crianças.

Veja – Do que se trata, exatamente, a "universidade popular" que o senhor criou?
Onfray – Eu criei essa universidade, com um grupo de amigos, três anos atrás, com o objetivo de proporcionar um saber filosófico exigente ao maior número possível de pessoas, de todas as origens, sem distinção de classe, religião, sexo, idade, formação, poder aquisitivo ou nível intelectual. E, ao mesmo tempo, permitir a construção de si mesmo como pessoa livre, independente e autônoma. Organizamos seminários sobre idéias feministas, política, cinema, arte contemporânea ou psicanálise, entre outros. Também temos uma oficina de filosofia para crianças. No que me diz respeito, ensino uma contra-história da filosofia – atéia, materialista, sensualista, hedonista, anarquista.

Veja – Que tipo de público freqüenta seus cursos?
Onfray – O público é indefinível, verdadeiramente popular: jovens, velhos, homens, mulheres, universitários, gente sem diploma, trabalhadores especializados, como pilotos de Airbus e neurocirurgiões, não qualificados ou desempregados, como os demitidos de uma montadora de automóveis da região.

Veja – A idéia está dando certo?
Onfray – O princípio dela já permitiu que se espalhe por cinco ou seis outras cidades. Há outros projetos de expansão.

sábado, 30 de abril de 2011

Mark Twain


Não são as partes da bíblia que eu não compreendo que me incomodam, mas sim as que eu compreendo. – Mark Twain

quinta-feira, 14 de abril de 2011

História abreviada da literatura portátil


Acabei de ler o impagável “História abreviada da literatura portátil”, do espanhol Enrique Vila-Matas. Autor de quase uma dezena de livros já publicados em português, Vila-Matas virou uma espécie de xodó dos escritores e ou pseudo-escritores, assim como dos “iniciados” na arte e na literatura, em especial o modernismo.
Em sua prosa, elegante e imaginativa, se misturam as situações ficcionais que ele criativamente apresenta a elementos das obras e dos autores aos quais ele presta reverência em suas tramas.
Basta fazer uma busca rápida na web para ver o clichê “escritor de escritores” repetido até o saco estourar. E não se trata aqui de negar o óbvio: ele faz um tipo de literatura que se equilibra sobre a linha tênue que separa o ensaísmo da ficção, se é que existe esta tal linha tênue. Dialoga com a imaginação literária ocidental de maneira astuciosa, o que obras como “Bartleby e companhia”, sem contar a “História abreviada da literatura portátil”, comprovam.
Para dar uma idéia do que se trata esse livro, resumiria dizendo que ele parte de uma hipótese ficcional, a criação de uma sociedade secreta de autores “portáteis”, narrada de modo a revelar os seus credos, tais como o nomadismo, celibato, sexualidade extrema e a concisão – só poderiam criar obras portáteis. Fazem parte desse movimento nomes tão diversos como Walter Benjamin, Marcel Duchamp, Céline. F. Scott Fitzgerald e o mago Aleister Crowley. Eram, ao todo 27 porque 27 é o número da conspiração. a partir desse quadro, em que autores são feitos personagens, se estruturam as referências e as situação, ficcionais ou não, que ajudam a compreender as suas vidas e um pouco da história do modernismo europeu no entreguerras.
Se toda a referência ao jogo metaliterário que caracteriza seu trabalho é justa, além de muito repetida, é preciso que se destaque outro elemento importante: é acima de tudo de literatura que falamos, e de boa literatura. Vila-Matas se esquiva do modelo preconizado por Ernest Hemingway, cujos personagens muito agem e pouco pensam, e retoma uma linha que se estende desde o início do romance moderno, desde “A vida e as opiniões do cavalheiro Tristan Shandy”, de Lawrence Sterne, por exemplo. Os personagens e Vila-Matas pensam, são irônicos e praticam com destreza as referências e as brincadeiras com idéias que são uma lufada de ar fresco em meio ao monte de porcarias que são publicadas, quase que todos os dias, aqui e alhures. E por porcarias leia-se: essa penca de “jovens escritores” que repetem fórmulas gastas apresentando personagens sem vida interior.
Sobre a obra do espanhol eu diria mais: Vila-Matas é engraçadíssimo. Ri muito em algumas partes desta história abreviada. Ironias e as chamadas “piadas internas” são abundantes em sua obra. Vou dar um exemplo desse recurso na obra. O autor “cria” os odradeks, espíritos que acompanham e atormentam os artistas em momentos de solidão. Abaixo, Vila-Matas descreve o odradek de Salvador Dalí, em uma passagem maliciosa e cheia de referências às obras e aos delírios do espanhol:
“O odradek de Salvador Dalí tinha um marcante ar festivo e musical e, além do mais, era extremamente erótico. Nada menos do que um violino masturbador chinês ou instrumento melódico provido de um apêndice vibratório, que servia para ser introduzido, de forma repentina e brusca, no ânus, mas também, e de preferência, na vagina. Depois de introduzi-lo, um hábil músico fazia deslizar o arco sobre as cordas do violino, não tocando a primeira coisa que lhe passasse na cabeça, mas sim uma partitura escrita especialmente para fins masturbatórios; o músico conseguia, mediante a sábia dosagem de notas em frenesi, intercalando-as com momentos de calma, que as vibrações amplificadas provocassem o orgasmo da beneficiária do instrumento no preciso e sincronizado momento em que a partitura atacasse as notas do êxtase” (p. 70-1).

Se a função da crítica é ser parcial e emitir juízos de valor, siga esse: acredito que devas ler o Vila-Matas.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Divulgação: 1959 - O Ano Mágico do Cinema Francês

Em cartaz de 1º a 10 de abril: Mostra 1959 – O Ano Mágico do Cinema Francês
ENTRADA FRANCA

O CineBancários, em parceria com o Sesc-RS, coloca em cartaz, a partir do dia 1º de abril, a mostra 1959 – O Ano Mágico do Cinema Francês. Foram reunidos cinco títulos produzidos no último ano da década de 50 que impulsionaram o movimento conhecido como Nouvelle Vague. A seleção fica no CineBancários até o dia 10 de abril, às 15h, 17h e 19h, sempre com entrada franca.


A programação reúne uma seleção de obras-primas assinadas por um grupo de diretores à época ainda jovens – Jean-Luc Godard (Acossado), Alain Resnais (Hiroshima, Meu Amor), Claude Chabrol (Quem Matou Leda?), François Truffaut (Os Incompreendidos) – mas que em pouco tempo seriam colocados entre os grandes mestres do cinema.

Os Incompreendidos, por exemplo, deu a Truffaut a Palma de Ouro de Melhor Direção e apresentou oficialmente o Nouvelle Vague ao mundo. Também integra a mostra um título lançado em 1959 de Robert Bresson (Pickpocket), diretor francês que mesmo não fazendo parte do movimento, influenciou-o profundamente.


** TODOS OS FILMES DA MOSTRA PERTENCEM AO ACERVO DO CineSesc


Acossado(À Bout de Souffle), de Jean-Luc Godard. França, 1959, 90 minutos.


De forma inovadora e iconoclasta, narra a fuga de um ladrão parisiense. Após roubar um carro em Marselha e assassinar um policial para não ser preso por excesso de velocidade, Michel Poiccard foge para Paris. Na cidade, apresentada como um dos personagens do filme, o fugitivo conhece Patrícia, uma bela estudante norte-americana. Os dois se envolvem e a jovem torna-se sua cúmplice. Ela esconde Michel em seu apartamento até que ele receba um dinheiro que lhe devem. Logo o procurado sai novamente pelas ruas da cidade e comete pequenos delitos, até ser visto por um informante e receber final trágico. Acossado foi um divisor na história do cinema, propondo uma nova aproximação ao espectador, entre muitas outras inovações técnicas e conceituais.

Nascido em Paris em 1930, Godard viveu a infância e a juventude na Suíça. De volta à França, estudou Etnologia na Sorbonne e, a partir de 1952, atuou como crítico e pensador nas revistas Cahiers du Cinéma e La Gazette du Cinéma. Em 1959, dirigiu seu primeiro filme: Acossado (Ã Bout de Souffle). O longa-metragem, um dos primeiros da Nouvelle Vague - e considerado por muitos como seu mais marcante exemplar -, apresentou diversas inovações narrativas, como a filmagem com a câmera na mão e cortes agressivos. Em 1985, apresentou uma versão modernizada da Virgem Maria em Je Vaus Saiu e Marie. O filme provocou polêmica no Vaticano e foi proibido em diversos países. Entre os principais prêmios de Jean-Luc Godard estão o Urso de Ouro, no Festival de Berlim de 1965, por Alphaville, e o Leão de Ouro, no Festival de Veneza de 1982, em homenagem a sua carreira.


Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups), de François Truffaut. França, 1959, 99 minutos.



Conta a história do adolescente Antoine Doinel. Desprezado pela mãe e ignorado pelo padrasto, o garoto deixa de frequentar as aulas para ir ao cinema e sair com os amigos. Certo dia, é descoberto pelos pais e esbofeteado em frente aos colegas. Tempos depois, ao plagiar um texto de Balzac e se desentender com o professor, ele abandona a escola definitivamente e foge de casa. Na rua, passa a viver de pequenos furtos, é preso e conhece os métodos de violência dos reformatórios infanto-juvenis. O filme é quase um documentário autobiográfico, com várias ações retiradas da própria vida do diretor. A narrativa é acerca de um dos assuntos mais caros à Nouvelle Vague, técnica e existencialmente: a liberdade.

Criado pelos avós, Truffaut nasceu em Paris, em 1932. Após juventude conturbada, recebeu incentivo do crítico de cinema André Bazin, de quem foi secretário pessoal. Escreveu no periódico Ciné Club du Quartier Latin e na revista Cahiers du Cinéma. Em 1959, realizou Os Incompreendidos, seu primeiro filme. O longa-metragem, quase um retrato real da infância do diretor e uma das primeiras manifestações da Nouvelle Vague, concedeu a ele a Palma de Ouro de Melhor Direção no Festival de Cannes. Jovens problemáticos seriam vistos também em outros filmes do diretor, como O amor aos vinte anos (L'Amour à Vingt Ans), de 1962, e Beijos proibidos (Baisers Volés), de 1968. Após 25 anos de carreira, faleceu dramaticamente em 1984 devido a um tumor no cérebro.


Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima Mon Amour), de Alain Resnais. França/Japão, 1959, 90 minutos.



A história assinada pela escritora Marguerite Duras narra o encontro de uma atriz francesa e um arquiteto japonês nos anos 1950. Ela participa de um filme sobre a paz em Hiroshima, cidade recém arrasada pela bomba atômica. Durante uma noite com ele, relembra sua juventude na cidade de Nevers. No período, durante a Segunda Guerra Mundial, ela teve um romance com um soldado alemão assassinado pela Resistência. Na mesma noite, o arquiteto relata os casos de amigos e familiares mortos durante o bombardeio nuclear. Apaixonado, ele pede à atriz para não regressar à França e ficar com ele em Hiroshima. Com diálogos literários, fotografia realista e rompimento da linearidade narrativa, o filme é reconhecido pela crítica como o mais sofisticado e bem-acabado da Nouvelle Vague.


Resnais nasceu em Vannes, na Bretanha Francesa, em 1922. Estudou dois anos de Arte Dramática, porém teve de servir ao exército durante a Segunda Guerra Mundial. O período militar trouxe fortes implicações a seus filmes. Iniciou a carreira no cinema com curtas-metragens e documentários - o mais importante deles, Noite e nevoeiro (Nouit et Brouillard), de 1955, relata os campos de extermínio nazistas. Em 1959 dirige seu primeiro longa-metragem, Hiroshima meu amor (Hiroshima Mon Amour). A obra recebeu o prêmio internacional da crítica no Festival de Cannes. Entre os principais diretores da Nouvelle Vague, Alain Resnais é o único a não escrever os roteiros de seus filmes.


Quem Matou Leda? (À Double Tour), de Claude Chabrol. França/Itália, 1960, 110 minutos.



Se passa entre uma manhã e uma tarde do mesmo dia. Com o uso de flashbacks e vinhetas, o diretor apresenta um thriller de infidelidade, obsessão e assassinato em um vinhedo da Provance. Lá vive Henri Marcoux, pai de uma família completamente desestruturada. O filho, desequilibrado, é um voyeur incontrolável; a filha, noiva de um oportunista; a esposa, uma mulher sem atitudes diante da escancarada traição do marido, amante declarado da bela e jovem vizinha Leda. Mas a jovem é misteriosamente assassinada em sua casa e os personagens tornam-se suspeitos do crime. Inteligente, crítica e detalhista, a narrativa aborda a decadência das relações burguesas na França do pós-guerra. Nessa obra estão as principais características artísticas da Nouvelle Vague francesa nascente.


Filho de farmacêutico, Claude Chabrol nasceu em Paris, em 1930. Estudou Farmácia, Literatura e Direito. Foi publicista do escritório parisiense da 20th Century Fox e crítico da prestigiada revista Cahiers du Cinéma. Estreou na direção em 1958, com Nas garras do vício (Le Beau Serge) e, em 1960, com Os primos (Les Cousins). O primeiro filme recebeu o prêmio Jean Viga e o segundo, o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim. Ambos tornaram-se marcos da Nouvelle Vague. Nos anos 1960, produziu quase duas dezenas de filmes, entre eles obras memoráveis como Entre amigas (Les Bonnes Femmes), As corças (Les Biches) e O açougueiro (Le Boucher). Hoje, com 50 anos de carreira, Claude Chabrol é um dos mais respeitados cineastas de todos os tempos.


Pickpocket (Pickpocket), de Robert Bresson. França, 1959, 79 minutos.




Introspectivo e revoltado com a estrutura social, o jovem Michel começa a bater carteiras pelo prazer e a emoção de roubar. Com o tempo, o hábito torna-se uma compulsão. Michel é preso e, na cadeia, reflete sobre seus atos ao perceber o forte choque causado em sua família e amigos. Ainda assim, ao ser solto, une-se a um ladrão veterano e volta ao crime. Sua consciência pesa novamente, agora por ter se apaixonado por Jeanne, vizinha que cuida de sua mãe. Entre os dois nasce uma relação afetuosa, capaz de motivar o protagonista a abandonar a compulsão ao roubo. O filme é uma concretização das teorias de Bresson acerca do cinema: o diretor buscava acentuar a distinção da linguagem cinematográfica em relação a todas as outras.

Nascido em 1901, em Bromont-Lamothe, na França, Robert Bresson graduou-se em Artes Plásticas e Filosofia. Ao deixar a faculdade, trabalhou um breve período como pintor, porém desenvolveu grande interesse pelo cinema. Em 1934 dirigiu seu primeiro filme, o média-metragem Les Affaires Publiques. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi enviado como prisioneiro de guerra a um campo de concentração alemão, onde ficou por mais de um ano. De volta a Paris, dirigiu seu primeiro longa-metragem, Anjos do pecado (Les Anges du Péché), em 1943. Entre os filmes mais conhecidos de sua carreira estão as adaptações literárias, como o próprio Pickpocket, de 1959, vagamente inspirado em Crime e castigo, de Dostoievski. Em 1995 recebeu o prêmio René Clair, da Academia Francesa, pelo conjunto da obra. Em 1999 faleceu por causas naturais.


GRADE DE HORÁRIOS


Sexta-feira (1º de abril)
15h – Quem matou leda?
17h - Pickpocket
19h - Hiroshima, Meu Amor


Sábado (2 de abril)
15h – Pickpocket
17h - Quem matou leda?
19h - Os Incompreendidos


Domingo (3 de abril)
15h – Acossado
17h - Hiroshima, Meu Amor
19h - Quem matou leda?


Terça-feira (5 de abril)
15h – Acossado
17h – Os Incompreendidos
19h – Pickpocket


Quarta-feira (6 de abril)
15h – Hiroshima, Meu Amor
17h – Quem Matou Leda?
19h – Acossado


Quinta-feira (7 de abril)
15h – Os Incompreendidos
17h – Pickpocket
19h – Hiroshima, Meu Amor


Sexta-feira (8 de abril)
15h – Quem Matou Leda?
17h – Acossado
19h – Os Incompreendidos


Sábado (9 de abril)
15h – Pickpocket
17h – Hiroshima, Meu Amor
19h – Quem Matou Leda?


Domingo (10 de abril)
15h – Acossado
17h – Os Incompreendidos
19h – Pickpocket



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quinta-feira, 3 de março de 2011

Contra as crenças e em nome da dúvida.


Impérios da crença.

Não faz muito tempo que acabei de ler “Impérios da Crença. Por que precisamos de mais ceticismo e dúvida no século XXI”, de Stuart Sim. O autor é professor de filosofia na Universidade de Sunderland, no Reino Unido e esse é o primeiro de seus livros a ser publicado no Brasil.
O tema é de primeira ordem. A abordagem do autor, bastante interessante, ainda que eu tenha sentido, ao longo da leitura, um certo desconforto com algumas simplificações e com algumas trivialidades que estão presentes em sua linha de argumentação. O primeiro objetivo do autor é confirmar a importância do ceticismo como forma de pensar legítima e necessária frente ao mundo contemporâneo, segundo a sua hipótese, cada vez mais dominado pelo pensamento dogmático, seja ele de natureza política, religiosa ou mesmo científica.
É satisfatória a sua defesa do ceticismo, que passa por uma boa análise das minúcias do conceito, a partir, em especial, de uma precisão de seu sentido e de seus significados ao longo da história. As aplicações do conceito, sob a forma da dúvida cético-cínica das autoridades de toda a natureza rende igualmente uma bela discussão. Em um momento em que avançamos em passos largos rumo a uma caretice sem fim, livros como esse dão um certo alento. Recomendo!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Entrevista com Lobão


Essa entrevista que reproduzo abaixo, disponível no site do Le Monde Diplomatique Brasil, é uma das manifestações características do Lobão. Inteligente, provocativa e muito irônica, a entrevista merece a leitura.

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01 de Dezembro de 2010
Le Monde Diplomatique Brasil
Edição 41, dezembro de 2010

Entrevista com Lobão
PELA EQUIPE DE REDAÇÃO

Estamos Ficando Caretas?

João Luiz Woerdenbag Filho, o Lobão, recebeu a equipe do Le Monde Diplomatique Brasil em seu estúdio para uma entrevista polêmica, na qual falou de política, cultura pop, direito autoral, da apatia dos brasileiros diante dos problemas do país e sobre o que acredita ser um processo de caretização nacionalista
por Entrevista com Lobão

LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL – Como você vê o cenário atual da música pop brasileira, principalmente depois do VMB (Vídeo Music Brasil, da MTV) deste ano?

LOBÃO – Olha, o que eu acho mais grave no Brasil é o culturalismo nacionaloide que existe. Esses Restart da vida, isso sempre existiu, é Menudo, é uma febre da adolescência pré-menstrual. O problema são esses grupos de chorinho fake, esse universitário brega. Isso é um retrocesso. O Brasil, nestes últimos anos, ficou mais burro, mais sectário. No índice de confiança da Fundação Getulio Vargas, em primeiro lugar, está o exército e, em segundo, as igrejas! Isso é um processo de caretização nacionalista no qual a juventude meio chapa branca entra numa de reinvenção regressiva, achando que os anos dourados foram aqueles não vividos por ela. Isso é a pior coisa para um processo de evolução cultural, artística, social.

Você tem isso em várias áreas. No sertanejo universitário, no chorinho universitário e até no samba-rock universitário com o Jorge Ben. Se eu fosse acadêmico, gostaria de ser sociólogo para pesquisar o porquê da nossa culpa católica, de um país eminentemente católico e culpado, uma intelectualidade francófila, né? O nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala francês no Parlamento de Paris, mas não vai dizer: “God save America”. Não sei por que cargas d’água esse antiamericanismo, é uma coisa estúpida. Por que a gente deveria setorizar as nossas críticas? Eu acho que a cultura americana, no seu bojo, é maravilhosa. Ela é uma síntese de toda a cultura do mundo. Mesmo o reduto americano sendo muito nacionalista, tem uma parte que não é retrógrada – a que pisou na Lua, que fez o jazz, que inventou o rock’n’roll, que criou Martin Luther King. Tudo isso é justamente a alma americana, e por que não achar legal?

DIPLOMATIQUE – E como você vê a cultura dos “de baixo” no Brasil?

LOBÃO – É horrível. Você vai à Bahia e vê as piores manifestações culturais, aquele cheiro de mijo, aquele axé horroroso. Não vejo no Brasil atual nada muito elegante a não ser coisas estereotipadas, como aquele Antonio Nóbrega, que eu acho um horror, e o Ariano Suassuna, que é um nazistoide! Ele escreve bem pra caramba, mas seu corolário estético e ideológico não pode ser mais fascista, mais nacionalista. O pensamento brasileiro é completamente errado. Por exemplo, um sujeito critica o fluxo de cultura atual, diz que somos colonizados pelo império americano, que o Michael Jackson vem aqui e dissemina uma cultura degenerada etc... Mas em 1690, quando o Maurício de Nassau veio aqui, ele não inventou de botar uma colônia holandesa? Teve colônia francesa, portuguesa, teve colônia africana trazida pelos escravos. Misturou tudo, e esse processo sempre foi um caos. Por que, então, você vai criticar aquela imposição, vamos dizer assim, colonizadora? Nós somos um país colonizado eternamente e, inclusive, nos vangloriamos de parte desse passado. Quero saber qual é a arbitrariedade, qual é a melhor colonização? Quem vai dizer que aquela é a melhor, qual é permitida?

Eu acho que os intelectuais brasileiros estão lambendo o saco do Chico Buarque, que é uma quimera. Chico Buarque é um menino que não entende nada da vida, ele goza com o pau dos outros, tem inveja de pobre. Pode ter talento, mas ele pensa errado, e não me interessa por que pensa errado. Eu não me interesso por Ariano Suassuna. Eu posso, no máximo, ter uma admiração artística, mas não posso me identificar com Antônio Conselheiro. E é de maneira esquizofrênica que nos identificamos com Antônio Conselheiro. Você vê o José Celso Martinez Corrêa fazer uma ode a Antônio Conselheiro em uma peça de seis horas, como se fosse o nosso herói, ao mesmo tempo baseado no Euclides da Cunha, que era um frenólogo que media a capacidade pela orelha, pelo cérebro, e aí tem essas dicotomias. Os sertões, de Euclides da Cunha, é um corolário de preconceitos e é horrível, e as pessoas têm isso como um mártir. Agora querem censurar Monteiro Lobato porque chamaram a Tia Anastácia de macaca, de carvão. Você pode com um país desse?

DIPLOMATIQUE – Você acompanhou essa consulta pública que o Ministério da Cultura abriu para discutir o direito autoral?

LOBÃO – Isso não tem a menor credibilidade. Aquilo é uma raposa no galinheiro, tudo é uma panela do Gilberto Gil, que acabou com a cultura. Em 2002 estávamos lançando a revista Outra Coisa, a cena independente estava crescendo, tinha uns 50 mil festivais. Essa era a tendência natural do povo brasileiro. Aí chegam eles, revivendo o pagode, o axé, injetando dinheiro e exportando aquele carnaval micareta para todo o Brasil. Isso fez do Brasil uma caricatura que ele vendeu, como no Ano do Brasil na França, exportando o que há de pior na Bahia. O que as pessoas acham? Pitoresco? Conheço uma croata que sempre vem ao Brasil, e quando o Gil foi empossado, ela disse: “Mas ele é um herói”. É um herói, mas dos anos 1960.

Por que você tem que voltar a ser neolítico? Eu já não sou mais. Como é que eu vou voltar? Já ouvi Led Zeppelin, Beatles... vou voltar a tocar aquelas coisas medíocres? Eu não sou aquilo. E aí vem aquela coisa do nacionalismo/raiz. Mas o ser humano não é movido a clorofila, tem sangue, não tem raiz, tem pé, e os mais assanhadinhos têm até asa. Essa onda de nacionalismo e conservadorismo em todo o mundo é da pior espécie e move todas as guerras. Um país que tem as forças armadas e a religião como seus esteios morais não tem muito futuro.

DIPLOMATIQUE – Você vendeu CD em bancas de jornal. O que acha dessas novidades tecnológicas, como baixar música na internet?

LOBÃO – Sério, isso daí é uma discussão no vazio, né? Eu fiz a venda em banca porque, na época, o CD virgem custava dois centavos. Quando eu terminei, estava custando R$ 3. Na época da ditadura, todos os LPs, até os anos 1980, tinham um selo dizendo “disco é cultura”. Tendo aquele selo, automaticamente você tinha 23%, 25% de desconto do ICMF. Aí você ficava equivalente à indústria editorial, que tem essa isenção até hoje. Foi por isso que eu fiz essa parada. E agora, por que tem que ficar contra o ministro da Cultura? Porque naquela época a indústria fonográfica era a terceira mais lucrativa do mundo, só perdia para o tráfico de drogas e de armas. Então tinha mais de 2.000% de lucro, e eles não deram a menor bola para aquilo, pararam de carimbar o disco da cultura. Driblei as gravadoras justamente porque migrei para o núcleo editorial e lancei o CD com isenção daqueles impostos. Olha só o disparate: a revista Outra Coisa custava R$ 9,90 na banca, enquanto um CD normal variava de R$ 38 a R$ 40 na loja.

A sensação que eu tenho é que a sociedade brasileira ou fica calada ou até aplaude. Somos um país com uma carga de impostos imoral. Olha só o que a gente tem em volta, educação, cultura. Estamos com uma lei para criminalizar o jabá, aí o Gil assume: “Mas jabá é coisa nossa, jabá é jeito bem-vindo do brasileiro fazer”. Porra! Não dá! Eu tenho inveja e adoraria ter nascido com um bandolim debaixo do braço e surfar nas águas da tradição de uma maneira genuína. Seria o melhor para mim. Mas é que eu não tenho compatibilidade, eu discordo, e o que é pior, acho culturalmente desprezível.

Cito Edgar Morin, filósofo francês que diz: “É uma questão de imprinting cultural”. Eu luto contra um imprinting. O problema não é você imitar fulano ou sicrano. É você imitar. A minha crítica é imitar, o brasileiro imita o tempo todo e continua um ser vulgar e, o que é pior, vaidoso. Acho que Bahia e Rio de Janeiro são os lugares mais geonarcísicos que eu conheço. Você não tem evolução, porque a satisfação é plena.

DIPLOMATIQUE – Publicamos recentemente uma matéria sobre tecnobrega no Pará. Eles ganham dinheiro com as festas de aparelhagem, fazem acordos com camelôs para vender CD. Um sistema próprio deles. O que você acha?

LOBÃO – Quando a lei vigente caduca, ela é corrompida. O problema é que a lei era para ter sido reeditada há mais de 30 anos. Essa coisa de numeração dos discos [para evitar cópias falsificadas e garantir o recolhimento dos direitos autorais] já vem de 1970. A gente passava na casa do Chico Buarque, nos anos 1980, o tempo todo. Todo mundo reunido. Era eu, Chico, Caetano, Gil, Renato Russo, Roberto Carlos, Cazuza, Paralamas, Elba Ramalho, dupla sertaneja. Passamos dois anos pensando, para você ver a gravidade que era aquilo. Aí, quando chega na hora, neguinho dá uma de João-sem-braço. Então a gente não tem consistência para levar a cabo nenhum tipo de condução de estratégia. A Beth Carvalho falava: “Artista brasileiro só se encontra em duas possibilidades: no aeroporto ou em premiação”. Você não tem como articular. Eu vivenciei isso amargamente.

As pessoas têm de entender que a censura maior está sendo agora, porque com o tempo de censura nós tivemos nomes que se sobressaíram, mesmo de classe média, Chico Buarque, Caetano, Gil, Edu Lobo, todos venceram a tal da censura, enquanto que agora não tem ninguém de valor conseguindo entrar no mercado.

DIPLOMATIQUE – É uma censura do mercado, não é?

LOBÃO – Mas não é a questão da censura do mercado, porque isso não é constituição de concorrência de mercado, isso é um problema ético. Se você cobra o jabá e favorece pessoas, você não está sendo mercadológico. Você está fazendo uma ciranda arbitrária. As pessoas têm de entender que isso aí é bandidagem e está acabando com a cultura brasileira, porque os caras mais legais desistiram de tocar no rádio. E o que é pior, você pega uma banda como Restart, que está tocando, vem um cara e diz assim: “Ó, vem cá”. E traveste os caras, que dizem amém e fazem aquela merda.

Não existe nada que não seja inofensivo na cultura brasileira. É só você olhar as novelas, o que acontece no rádio, o que as pessoas aplaudem, o que as pessoas ouvem. Tudo é de leve. Chega a ser cínico, você não vai acreditar que tem um tiroteio no Rio de Janeiro e as pessoas estão ouvindo “O Barquinho” com cadáveres do lado. Esse é o Rio de Janeiro. Isso me dá raiva porque aí você vai para a praia e tem gente que está aplaudindo o pôr do sol, todo mundo com biriba, fumando maconha, com tiro saindo pela cabeça. É barra pesada. Agora as pessoas revertem isso numa poesia, e tudo é azul. E não é.

DIPLOMATIQUE – Você acha que os Racionais MC’s jogam a real?

LOBÃO – Não. Os Racionais são mais racistas que a gente. Conheci o mestre deles, um amor de pessoa, mas ouvi coisas do tipo: “Ó, vai falando para os seus pupilos, não aperto a mão, entendeu?”. Não aperta mão de branco. Não pode ser assim. Eu não acho que seja assim, nem o Martin Luther King achava. Para você curar um racismo, você não tem de adotar outra postura mais racista. Para a gente começar um novo paradigma, tem de ter a generosidade de zerar tudo. Se a gente fizer e equiparar com coisas erradas para empatar, isso nunca vai acontecer. Os Racionais, que eu admirava muito em 1998, foram ficando muito autossuficientes e começaram a praticar as mesmas atrocidades de que eles são vítimas. Aí zera tudo, não acontece nada e eles voltam para o gueto, como voltaram, e estão lá falando do gueto para o gueto, regurgitando conceitos que talvez nem eles acreditem mais.

DIPLOMATIQUE – Você lançou recentemente a sua autobiografia. Por que fazer um livro?

LOBÃO – É só olhar para a minha cara, né? Eu tenho 53 anos e acho que sou a pessoa que tem mais histórias para contar, e tenho mesmo, é só você olhar no livro. Acho que o tema é importantíssimo por vários motivos. Agora, o mais interessante e lúdico é justamente que eu venho de uma família de direita, o meu pai era meio nazista, a minha mãe era da Arena. O que foi interessante ver, nos anos 1960, é que toda hora a direita estava com a esquerda. Por exemplo, a minha mãe era fã do Médici. Ela ficava emocionada, com os olhos azuis dele, ela chorava. Aí via o Chico Buarque na televisão, aqueles olhos verdes. Por isso eu começo o livro falando assim: mamãe era fã de ambos, a ponto de não distinguir onde começava um e terminava o outro.

Eu vivi na época em que imputaram na gente a Moral e Cívica, uma coisa execrável, militarista. E qual era o ídolo das duas professoras octogenárias que eu tive em Moral e Cívica? Chico Buarque de Holanda. Elas eram curadoras de um festival do colégio onde eu estudei com o Zé Renato e o Cláudio Lucci. Todos eram os novos Chico Buarque de Holanda. A gente queria fazer rock, mas nunca consegui classificar uma música minha. Eu vi a passeata contra a guitarra elétrica. Gilberto Gil, Caetano, Chico, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Egberto Gismonti, Edu Lobo, Elis Regina, todo mundo. Você quer uma coisa mais retrógrada? Eu começava a pensar assim: se tem um cara como o Chico, que escreve “Essa moça tá diferente, já não me conhece mais, está pra lá de pra frente, está me passando pra trás”, é isso mesmo, então fica pra trás, rapaz. Eu fui ver o Bye Bye Brasil, em 1978, e tinha um curta do Chico, no qual ele pleiteava de uma maneira muito séria o romantismo: cadê as serenatas ao luar, cadê as serenatas e os sobrados? Desgraçado. Eu chorava porque a minha namorada morava no 16o andar. Como é que vou fazer serenata?

A cultura brasileira tende a se autossacralizar, se tornar uma língua morta. Eu adoro choro. Se você vai ouvir um choro, é inevitável se transportar para o século XIX, para o sobrado. Você não vai conseguir ouvir o choro e ir para uma estrada. Você vai ouvindo América, folk, Bob Dylan. E a bossa nova? A bossa nova é um fenômeno brasileiro que pegou o jazz complexo e o transformou em vulgar. Eu não consigo dissociar “Garota de Ipanema” de uma loja de departamentos ou um elevador. Onde mais eu posso ouvir “O Barquinho”? Comprando uma meia ou num elevador, eu não vou estar numa sala de concerto ouvindo “O Barquinho”. E as pessoas não entendem isso.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Man in black


Às vezes me perguntam porque eu ando sempre (ou quase...) de preto. Aí vai a resposta musical do Johnny Cash para a perguntinha. No original e em uma tradução meio suspeita. Se quiseres ouvir, vá ao Youtube, ok?
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Man In Black (Johnny Cash)

Well, you wonder why I always dress in black,
Why you never see bright colors on my back,
And why does my appearance seem to have a somber tone.
Well, there's a reason for the things that I have on.

I wear the black for the poor and the beaten down,
Livin' in the hopeless, hungry side of town,
I wear it for the prisoner who has long paid for his crime,
But is there because he's a victim of the times.

I wear the black for those who never read,
Or listened to the words that Jesus said,
About the road to happiness through love and charity,Why, you'd think He's talking straight to you and me.

Well, we're doin' mighty fine, I do suppose,
In our streak of lightnin' cars and fancy clothes,
But just so we're reminded of the ones who are held back,
Up front there ought 'a be a Man In Black.

I wear it for the sick and lonely old,
For the reckless ones whose bad trip left them cold,
I wear the black in mournin' for the lives that could have been,
Each week we lose a hundred fine young men.

And, I wear it for the thousands who have died,
Believen' that the Lord was on their side,
I wear it for another hundred thousand who have died,
Believen' that we all were on their side.

Well, there's things that never will be right I know,
And things need changin' everywhere you go,
But 'til we start to make a move to make a few things right,
You'll never see me wear a suit of white.

Ah, I'd love to wear a rainbow every day,
And tell the world that everything's OK,
But I'll try to carry off a little darkness on my back,'Till things are brighter, I'm the Man In Black.



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Homem de Preto

Bom, você imagina por que sempre me visto de preto,
Por que nunca vê cores brilhantes nas minhas costas,
E por que minha aparência parece ter um tom sombrio.
Bom, existe uma razão para as coisas que visto

Eu visto o preto pelo pobre e oprimido,
Vivendo no lado faminto e sem esperança da cidade,
Eu o visto pelo preso que há muito tempo já pagou pelo seu crime,
Mas está lá porque ele é uma vítima dos tempos.

Eu visto o preto por aqueles que nunca leram,
Ou escutaram as palavras que jesus pronunciou,
Sobre a estrada para a felicidade através do amor da caridade
Por que, você pensaria que ele está falando diretamente para você e eu.

Bom, nós estamos indo muito bem, eu suponho,
Na nossa fileira de carros reluzentes e roupas da moda,
Mas, então, somos lembrados daqueles que são excluídos,
Na frente, tem que existir um homem de preto.

Eu visto pelo velho doente e solitário,
Pelos descuidados que se tornaram frios por causa de uma péssima experiência
Eu visto preto em luto pelas vidas que poderiam existir,
A cada semana perdemos cem bons homens jovens

E, eu visto pelos milhares que morreram,
Acreditando que o senhor estava do lado deles,
Eu visto pelos outros milhares que morreram,
Acreditando que todos nós estávamos do lado deles.

Bom, existem coisas que nunca serão certas, eu sei,
E coisas que precisam de mudanças em qualquer lugar que você vá,
Mas, até nós começarmos a nos mexer para endireitarmos algumas coisas certas,
Você nunca me verá usando um terno branco.

Ah, eu adoraria vestir um arco-íris todos os dias,
E dizer para o mundo que tudo está ok,
Mas tentarei retirar um pouco da escuridão das minhas Costas,
Até as coisas serem brilhantes, eu sou o homem de preto.

House para os crentes...

Sidney Sheldon é dose pra mamute

Gosto da Amy Winehouse. Seus dois discos andaram um bom tempo na minha playlist. No entanto, a exposição promovida pelos portais de fofoca é realmente um saco. Puta que o pariu, não pinta uma mísera análise do trabalho da Amy que, ainda que muitas vezes isso nem seja lembrado, é uma artista, com virtudes e pontos fracos em seu trabalho.

A fofoquinha um pouco mais curiosa que surgiu foi a sua leitura à beira da piscina: Sidney Sheldon. Pelo menos ficamos sabendo que, apesar de ser uma cantora interessante, não é lá muito inteligente e tem um gosto literário pra lá de suspeito. Êta mundinho besta!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Entrevista com Mike Davis



Essa entrevista com Mike Davis foi publicada na Com Ciência. Revista de Jornalismo Científico mantida pela SBPC. O link da publicação original está aqui. Reproduzo não só pela importância do tema mas também pela importância do autor, um dos meus preferidos. Se ainda não o conhece, vá atrás!

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Entrevistas
Mike Davis
Em entrevista, o autor do recém-lançado Planeta Favela, diz que a maior parte da população urbana vive hoje em imensos subúrbios sem infra-estrutura e serviços, os quais escapam a qualquer conceituação tradicional
Tradução: Marta Kanashiro
O urbanista, historiador e ativista político Mike Davis tem publicado uma série de trabalhos que se tornaram referências no meio acadêmico, tais como Ecologia do medo, Holocaustos coloniais, e Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles. Não apenas sua obra, mas também sua trajetória de vida é marcada por experiências instigantes. Davis já foi caminhoneiro, açougueiro e militante estudantil. Atualmente é professor no Departamento de História da Universidade da Califórnia, em Irvine, e editor da New Left Review. Ele também contribui para a publicação britânica Socialist Review, do partido socialista dos trabalhadores da Grã-Bretanha, e já atuou como ensaísta e jornalista em publicações como The Nation e New Statesman.

Planeta Favela, lançado no Brasil no final de 2006, é mote para a entrevista abaixo, publicada originalmente no blog BLDG. Na obra Davis aborda o processo de favelização e empobrecimento das cidades do terceiro mundo. Alvo de diversas traduções, em especial de trechos que parecem ser os mais tocantes para a questão das cidades no terceiro mundo, a entrevista recebeu, para ser publicada na ComCiência, uma tradução livre da versão em espanhol publicada pelo Instituto Argentino para o Desenvolvimento Econômico.

Os subúrbios das cidades do terceiro mundo são o novo cenário geopolítico decisivo

Em poucos anos, pela primeira vez na história da humanidade, a população urbana superará em número a população rural. Entretanto, a maior parte dessas pessoas não vive no que normalmente entendemos por cidades, mas em imensos subúrbios sem infra-estrutura e serviços, os quais escapam a qualquer conceituação tradicional. Mike Davis, um dos pensadores mais recomendados dos últimos anos aborda esta nova realidade em Planet of slums (traduzido no Brasil como Planeta favela), que é um desses livros que podemos chamar de imprescindíveis.


Na sua descrição de uma nova “geografia pós urbana”, o senhor utiliza um vocabulário inovador: corredores regionais, conurbações difusas, redes policêntricas, periurbanização ....
Mike Davis - Trata-se de uma linguagem em pleno processo de desenvolvimento e é nela que apenas reside o consenso. Os debates mais interessantes têm surgido a partir do estudo da urbanização no sul da China, Indonésia e no sudeste da Ásia e giram, principalmente, em torno da natureza da periurbanização na periferia das grandes cidades do terceiro mundo. Com este termo refiro-me ao lugar no qual encontram-se o campo e a cidade e a pergunta que se coloca é: estamos diante de uma fase temporária de um processo complexo e dinâmico ou esta natureza híbrida será mantida ao longo do tempo?

A nova realidade periurbana apresenta uma mistura muito complexa de subúrbios pobres, deslocados do centro das cidades e, no meio deles, pequenos enclaves de classe média, freqüentemente de construção recente e com muros. Nessa periurbanização encontramos também trabalhadores rurais atraídos pela manufatura de baixa remuneração e moradores dos centros urbanos que se deslocam diariamente para trabalhar na indústria agrícola. Curiosamente, este fenômeno despertou também o interesse de analistas militares do Pentágono, que consideram essas periferias labirínticas um dos grandes desafios com o qual irá se deparar o futuro com tecnologias bélicas e projetos imperialistas. Após uma época em que se centraram no estudo dos métodos de gestão empresarial moderna – o just-in-time e o modelo Wal Mart – esses militares parecem estar agora obcecados com a arquitetura e o planejamento urbano. Os Estados Unidos desenvolveram uma grande capacidade para destruir os sistemas urbanos clássicos, mas não tiveram nenhum êxito nas "Sader Cities" do mundo. O caso de Faluya é sintomático: depois que a destroçaram com tanques de guerra e bombas cluster, os mesmos insurgentes com os quais se quis acabar a reocuparam quando acabou a ofensiva. Acredito que tanto a esquerda quanto a direita concordam que os subúrbios das cidades do terceiro mundo são o novo cenário geopolítico decisivo.

Qual é a representação cultural mais adequada para os subúrbios do terceiro mundo que o senhor descreve em Planeta favela?
Davis - Se Blade Runner foi um dia o ícone do futuro urbano, o Blade runner dos subúrbios é Black hawk down 1. Reconheço que não posso deixar de vê-lo: sua entrada em cena e sua coreografia são incríveis. O filme representa com perfeição esta nova fronteira da civilização: a "missão do homem branco" nos subúrbios do terceiro mundo e seus exércitos ameaçadores com aspecto de videogame, enfrentando-se com heróicos tecnoguerreiros e com os cavaleiros da Força Delta. É claro que, do ponto de vista moral, é um filme aterrador: é como um videogame no qual é impossível contar todos os somalis que morrem.

Além disso, a realidade é que os brancos não são maioria entre os cavaleiros deslocados para o estrangeiro: são americanos, sim, mas quase todos eles são também procedentes dos subúrbios. O novo imperialismo, como o velho, tem essa vantagem: a metrópole é tão violenta e aloja tanta pobreza concentrada que produz excelentes guerreiros para este tipo de campanha militar. Um professor que tive escreveu um livro magnífico que mostrava, contra todo prognóstico, que nas vitórias nas campanhas militares do Império Britânico o fator decisivo não era a tecnologia armamentista, mas a habilidade dos soldados britânicos no corpo-a-corpo com a baioneta, uma habilidade que era conseqüência direta da brutalidade da vida cotidiana nos bairros baixos ingleses.

Para além do giro em torno da violência e da insurgência, está surgindo algum sistema de auto-governo nos subúrbios?
Mike Davis - A organização nos subúrbios é extraordinariamente diversa. Em uma mesma cidade latino-americana, por exemplo, existem desde igrejas pentecostais, até Sendero Luminoso, passando por organizações reformistas e ONGs neoliberais. A popularidade de uns e outros coletivos varia muito rapidamente e é muito difícil encontrar uma tendência geral. O que está claro é que na última década os pobres – e refiro-me não apenas aos dos bairros urbanos clássicos que já mostravam níveis altos de organização, mas também aos novos pobres das periferias – têm se organizado em grande escala, seja em uma cidade iraquiana como Sader City ou em Buenos Aires. Os movimentos sociais organizados colocaram sobre a mesa reivindicações de participação política e econômica sem precedentes, que impulsionaram um avanço na democracia formal. Sem dúvida, em geral os votos têm pouca relevância: os sistemas fiscais do terceiro mundo são, com raras exceções, tão regressivos e corruptos, e dispõem de tão poucos recursos, que é quase impossível colocar em marcha uma redistribuição real. Ademais, inclusive naquelas cidades em que existe maior grau de participação nas eleições, o poder real é transferido para agências executivas, autoridades industriais e entidades de desenvolvimento de todo tipo, sobre as quais os cidadãos não têm nenhum controle, e que tendem a ser meros veículos locais dos investimentos do Banco Mundial. A via democrática em direção ao controle das cidades – e, sobretudo, dos recursos necessários para realizar as reformas urbanas – segue sendo incrivelmente difícil.

Em quase todos os programas governamentais ou estatais que procuram abordar a pobreza urbana, o subúrbio pobre é compreendido como um simples subproduto da superpopulação. Não tenho nenhuma confiança no conceito de superpopulação. A questão fundamental não é se a população tem aumentado muito, mas como fechar a equação de ter, por um lado, a justiça social e o direito a um nível de vida decente e, por outro lado, a sustentabilidade ambiental. Não há pessoas demais no mundo, o que existe é, obviamente, um consumo excessivo de recursos não renováveis. Claro que a solução deve passar pela própria cidade: as cidades verdadeiramente urbanas são os sistemas mais eficientes, ambientalmente falando, que criamos para a vida em comum. Oferecem altos níveis de vida por meio do espaço e do luxo públicos, ou permitem satisfazer necessidades que o modelo de consumo privado suburbano não pode permitir-se. O problema básico da urbanização mundial atual é que não tem nada a ver com o urbanismo clássico. O autêntico desafio é conseguir que a cidade seja melhor como cidade. Planeta favela dá razão aos sociólogos que assinalaram nos anos 50 e 60 os problemas da suburbanização norte-americana: ocupação caótica do território, incremento dos tempos de deslocamento do domicílio ao trabalho e dos recursos associados a esse deslocamento, deterioração da qualidade do ar e falta de equipamentos urbanos clássicos.

Mas não existem cidades excessivamente povoadas para um entorno escasso em recursos, no qual estão implantadas?
Davis - A inviabilidade de uma megacidade tem menos a ver com o número de pessoas que vivem nela do que com seu modo de consumir: se são reutilizados e reciclados os recursos e se compartilha o espaço público, então é viável. Tem que se levar em conta que a pegada ecológica varia muitíssimo segundo os grupos sociais. Na Califórnia, por exemplo, a ala direita dos movimentos conservacionistas sustenta que há uma enorme onda de imigrantes mexicanos que é responsável pelos congestionamentos e pela poluição, o que é completamente absurdo: não existe população com menor pegada ecológica ou que tenda a utilizar o espaço público de forma mais intensa que os imigrantes da América Latina. O verdadeiro problema são os brancos que passeiam em seus carrinhos de golfe pelos cento e dez campos que existem em Coachella Valley. Em outras palavras, um homem da minha idade, ocioso, pode estar usando dez, vinte ou trinta vezes mais recursos que uma chicana que tenta seguir adiante com sua família num apartamento do centro da cidade.

Não se pode deixar levar pelo pânico do crescimento da população ou da chegada dos imigrantes; o que se deve fazer é pensar como se podem fomentar as atitudes do urbanismo para conseguir, por exemplo, que subúrbios como os de Los Angeles funcionem como uma cidade no sentido clássico. Também se deve respeitar a necessidade absoluta de conservar as zonas verdes e as reservas ambientais sem as quais as cidades não podem funcionar. A tendência atual em todo o mundo é que os pobres busquem acomodação em zonas úmidas (de mananciais) de importância vital, que se instalem em espaços abertos cruciais para o metabolismo da cidade. Aí está o exemplo de Bombaim, onde os mais pobres assentaram-se em um Parque Nacional adjacente e que, de vez em quando, são comidos pelos leopardos, ou de São Paulo, onde se empregam enormes quantidades de substâncias químicas para purificar a água para se livrar de uma batalha perdida contra a poluição na cabeceira de suas fontes de abastecimento. Se se permite esse tipo de crescimento, se são perdidas zonas verdes e os espaços abertos, os aquíferos são bombeados até esgotá-los e se são contaminados os rios, danifica-se fatalmente a ecologia da cidade.


Leia também a resenha do livro Planeta favela, escrita por Ermínia Maricato, autora do posfácio da obra e que afirma que este texto de Davis é importante para iluminar os problemas urbanos e grande parte de suas causas.

1 Black hawk down (Falcão negro em perigo) é um filme dirigido por Ridley Scott em 2001, que retrata uma força de elite americana enviada para capturar militares locais durante a guerra civil da Somália (1993).

domingo, 2 de janeiro de 2011

Baudelaire


Uma pitada de Baudelaire, para animar o domingo.

Portrait de la Canaille littéraire.
Doctor Estaminetus Crapulosus Pedantissimus. Son portrait fait à la manière de Praxitèle.
Sa pipe,
Ses opinions,
Son hégélianisme,
Sa crasse,
Ses idées en art,
Son fiel,
Sa jalousie.
Un joli tableau de la jeunesse moderne.

***

Tous les imbéciles de la Bourgeoisie qui prononcent sans cesse les mots : immoral, immoralité, moralité dans l'art et autres bêtises me font penser à Louise Villedieu, putain à cinq francs, qui m'accompagnant une fois au louvre, où elle n'était jamais allée, se mit à rougir, à se couvrir le visage, et me tirant à chaque instant par la manche, me demandait devant les statues et les tableaux immortels comment on pouvait étaler publiquement de pareilles indécences. Les feuilles de vigne du sieur Nieuwerkerke.

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A alfinetada que trocadas algumas expressões poderia ter sido escrita ontem à tarde, está em Mon coeur mis à nu: journal intime, (1887)., que pode ser lido gratuitamente em francês aqui. Se preferires em português, há uma bela tradução de Tomaz Tadeu da Silva, pela Autêntica, com o título "Meu coração desnudado".

sábado, 1 de janeiro de 2011

Preconceito e religião

Religião. A discussão é tensa e tem ganhado desdobramentos curiosos. Para alguns, há ingredientes que vão da fé ao apelo moral. Para outros, ainda que ateus e agnósticos, religião é algo que tem apelo pessoal e não deve ser discutido. Fato é que declarar-se ateu ainda é algo que gera muita incompreensão e preconceitos. Abaixo, coloco algumas imagens da campanha lançada pela Atea, associação criada para defender e representar aqueles que não crêem. A tarefa é difícil e necessária. basta olharmos para as conseqüências perversas da religião em áreas que vão muito além da profissão de fé individual, como a ciência e a política.