segunda-feira, 7 de maio de 2012

Juvenília raulseixista revisited




Raul Seixas é um fenômeno curioso. Nas conversas “sérias” sobre a MPB não é comum ouvir algo sobre ele. Via de regra, as análises recaem sobre a obra de Caetano Veloso, de Chico Buarque e de alguns outros poucos compositores. Por outro lado, o apelo popular de Raul Seixas é impressionante. Virou grito de guerra em qualquer lugar onde haja música ao vivo (toca Raul!) e tem o seu público em constante processo de renovação. É muito expressivo o número de fãs que eram crianças ou mesmo nem haviam nascido quando ele morreu, em agosto de 1989.

Devo dizer que eu não ouvia Raul com muita frequencia quando ele morreu. Em 1989 eu tinha 11 anos de idade e ainda não era um grande consumidor de música. Deveria ter uma ou duas fitas em casa com músicas dele. Mais tarde, ali por 1992, comecei a ouvir sistematicamente, a colecionar seus discos (em LP e, logo depois, em CD).

Mais importante do que isso, comecei a rastrear algumas das referências que estavam espalhadas por suas composições. A partir de suas músicas, me interessei por cinema antigo, literatura e rock and roll, de todas as gerações. De “O dia em que a Terra parou” a Bob Dylan, do Bhagavad Gita a Luiz Gonzaga, passando por Elvis, Beatles, pelos beats e pelos hippies. Raul foi uma excelente porta de entrada para a cultura pop e de algum modo, um apoio importante para alguém que se sentia tão sozinho quando eu. Em função de Raulzito, li muito, ouvi muita música, fiz amigos por correspondência, criei um Fanzine (eram 12 páginas, escritas por mim, xerocado e enviado pelo Correio) e cheguei ao ponto de escrever para a sua mãe (o mais interessante, ela respondeu a minha carta).

Assistir ao documentário “Raul: o início, o fim e o meio” me fez, por duas horas, passar um pouco da minha adolescência a limpo. Achei o documentário muito bem montado. Não é apelativo, não explorou excessivamente o aspecto por assim dizer trágico de sua personalidade. Alcoólatra e cocainômano, Raul daria margem para um grande programa de desgraças ao sabor da mídia televisiva. Esses temas não foram tangenciados, mas também não ocupam um espaço excessivo na história que o diretor estava disposto a narrar.

Acima de tudo, o que se vê ali é um artista, extremamente criativo, muitas e muitas vezes mal compreendido. Suficientemente inteligente para querer mudar o mundo e suficientemente anárquico para saber que isso não era possível. Francamente, pensando em tudo isso, tenho certa pena de quem nunca foi patético. Absolutamente patético.

Um comentário:

  1. Éder, tudo blz?

    Legal que gostou do documentário. Nem comprei ainda pensando que seria do tipo "o cara era drogado e por isso pensava diferente".

    Entre em contato: opus666@gmail.com

    Abs!
    Julio Cesar Schmidt

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