terça-feira, 4 de maio de 2010

Oficinas literárias


Não faz muito chegou às livrarias a plaquete de José Hildebrando Dacanal sobre as oficinas literárias. Nunca fiz uma oficina literária, nem mesmo tenho pretensões de me tornar ficcionista. Não tenho amigos no meio, nem mesmo pena alugada para defender quem quer que seja.
Sou apenas um consumidor de (boa) literatura. O que muitos chamam de um leitor acomodado, outros de um leitor exigente: só leio clássicos. Como não tenho muito tempo nem mesmo grande curiosidade de saber o que dizem os novíssimos, em especial os novíssimos de nossas paragens, fico com aquilo que tenho certeza me dará prazer.
Ainda assim, gostaria de comentar um pouco sobre a crítica de J. H. Dacanal aos oficineiros, aos profissionais das letras que buscam formar novos escritores.
“Oficinas literárias: fraude ou negócio sério?” é, a rigor, uma colcha de retalhos, composta por um artigo diretamente sobre o tema e por outros que o tangenciam. O intuito de Dacanal é, se bem o entendo, a um só tempo polemizar e apontar para aquilo que ele entende como a boa formação de um escritor. Sendo esse o seu ponto, devo dizer que ele nem polemiza, porque fica em um jogo de insinuações e mensagens cifradas para esse ou aquele oficineiro, o que de resto é muito chato porque improdutivo, nem educa, porque passa parte do livro adotando uma retórica irônica e auto-elogiosa chatíssima.
Seria muito mais produtivo, sendo esse assunto realmente de grande relevância, que esse autor ou outro interessado em mexer no vespeiro analisasse os resultados das oficinas. Comparasse os egressos entre si para averiguar se realmente há o “efeito motoniveladora”, tanto temático quanto estilístico, com conseqüências não só na fatura dos egressos mas também nos critérios que passam a orientar os tais concursos literários das últimas duas décadas. Como se vê, é assunto sério e que merece reflexão e trabalho empírico.
Ora, Dacanal é culto, bem formado e tem trajetória como crítico e como pesquisador. Isso é inegável. Assim como é inegável que o seu “Oficina Literária” seja medíocre. Nele, o autor não foi além de esboçar um programa de estudo que ainda está esperando alguém com interesse em realizá-lo. Além disso, sua narrativa se torna viscosa a cada momento em que se mostra muito satisfeito consigo mesmo, como fica claro na introdução, com as auto-ironias sobre a sua fama de polemista, que lembram mais o Erasmo Carlos de “Minha Fama de Mau” do que a pena viperina de Erasmo de Roterdã, ou o Anexo C do livro, intitulado “Eu sou um imbecil”.

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