quarta-feira, 12 de maio de 2010

O frenesi polissilábico de Nick Hornby


Tenho diversos motivos pessoais para gostar de Nick Hornby. Ele é fanático por futebol, seus livros são cheios de referências à cultura pop e a sua prosa é envolvente e irônica. Bastante irônica! Acima de tudo, ele é neurótico e adora listas, e devo confessar que além de fazer as minhas próprias, adoro ler as listas dos outros. Quais são as dez músicas da sua vida? Os dez maiores foras que já levou? A escalação ideal do Grêmio de todos os tempos?
Se o Hornby ficcionista todos nós já conhecíamos através de livros como Alta Fidelidade (virou filme, com o John Cusack) e Febre de Bola (também virou filme, com a Drew Barrymore), em Frenesi Polissilábico damos de cara com o Hornby cronista, exercendo com maestria um tipo específico de crônica onde o assunto é a sua vida de leitor. No começo de cada texto, duas listas, uma de livros comprados naquele mês e a outra dos livros lidos.
A voz narrativa que ele assume nos textos é muito interessante, e eles vem eivados de passagens divertidíssimas. Os assuntos são família, o Arsenal FC, o seu processo criativo e, acima de tudo, livros. Sua postura é muito diferente daquela assumida pelos “críticos de literatura” espalhados por aí. Seus textos são deliberadamente opiniáticos e a visão expressa é absolutamente pessoal, sem qualquer tipo de culpa ou prurido, como ele afirma com todas as letras logo na introdução: “Vou deixar bem claro: fico de saco cheio, entediado e, quando isso acontece, tendo a ficar irritado. Isso tudo me ajudou a descobrir que é fácil eliminar a chatice de minha vida como leitor”.
Não posso, é claro, deixar de destacar uma das melhores características do seu texto: a autoironia. O suavemente feroz humour inglês é destilado por Hornby contra vários dos livros que lê, mas ele nunca deixa de rir de si mesmo.
Há passagens verdadeiramente memoráveis, como a sua imaginária luta de boxe entre as artes, por exemplo. Quem venceria em um ringue: Crime e Castigo ou Guernica? Em quase todas as suas simulações. Hornby acredita que a literatura venceria.
Se para alguns, Nick Hornby já havia provado que é possível criar boa literatura sem que ela seja chata, tornando o prazeroso ato de ler em uma verdadeira prova aos nervos, agora ele vem ajudar a mostrar que ler o que se escreve sobre livros pode, sim, ser divertido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário