quinta-feira, 31 de março de 2011

Divulgação: 1959 - O Ano Mágico do Cinema Francês

Em cartaz de 1º a 10 de abril: Mostra 1959 – O Ano Mágico do Cinema Francês
ENTRADA FRANCA

O CineBancários, em parceria com o Sesc-RS, coloca em cartaz, a partir do dia 1º de abril, a mostra 1959 – O Ano Mágico do Cinema Francês. Foram reunidos cinco títulos produzidos no último ano da década de 50 que impulsionaram o movimento conhecido como Nouvelle Vague. A seleção fica no CineBancários até o dia 10 de abril, às 15h, 17h e 19h, sempre com entrada franca.


A programação reúne uma seleção de obras-primas assinadas por um grupo de diretores à época ainda jovens – Jean-Luc Godard (Acossado), Alain Resnais (Hiroshima, Meu Amor), Claude Chabrol (Quem Matou Leda?), François Truffaut (Os Incompreendidos) – mas que em pouco tempo seriam colocados entre os grandes mestres do cinema.

Os Incompreendidos, por exemplo, deu a Truffaut a Palma de Ouro de Melhor Direção e apresentou oficialmente o Nouvelle Vague ao mundo. Também integra a mostra um título lançado em 1959 de Robert Bresson (Pickpocket), diretor francês que mesmo não fazendo parte do movimento, influenciou-o profundamente.


** TODOS OS FILMES DA MOSTRA PERTENCEM AO ACERVO DO CineSesc


Acossado(À Bout de Souffle), de Jean-Luc Godard. França, 1959, 90 minutos.


De forma inovadora e iconoclasta, narra a fuga de um ladrão parisiense. Após roubar um carro em Marselha e assassinar um policial para não ser preso por excesso de velocidade, Michel Poiccard foge para Paris. Na cidade, apresentada como um dos personagens do filme, o fugitivo conhece Patrícia, uma bela estudante norte-americana. Os dois se envolvem e a jovem torna-se sua cúmplice. Ela esconde Michel em seu apartamento até que ele receba um dinheiro que lhe devem. Logo o procurado sai novamente pelas ruas da cidade e comete pequenos delitos, até ser visto por um informante e receber final trágico. Acossado foi um divisor na história do cinema, propondo uma nova aproximação ao espectador, entre muitas outras inovações técnicas e conceituais.

Nascido em Paris em 1930, Godard viveu a infância e a juventude na Suíça. De volta à França, estudou Etnologia na Sorbonne e, a partir de 1952, atuou como crítico e pensador nas revistas Cahiers du Cinéma e La Gazette du Cinéma. Em 1959, dirigiu seu primeiro filme: Acossado (Ã Bout de Souffle). O longa-metragem, um dos primeiros da Nouvelle Vague - e considerado por muitos como seu mais marcante exemplar -, apresentou diversas inovações narrativas, como a filmagem com a câmera na mão e cortes agressivos. Em 1985, apresentou uma versão modernizada da Virgem Maria em Je Vaus Saiu e Marie. O filme provocou polêmica no Vaticano e foi proibido em diversos países. Entre os principais prêmios de Jean-Luc Godard estão o Urso de Ouro, no Festival de Berlim de 1965, por Alphaville, e o Leão de Ouro, no Festival de Veneza de 1982, em homenagem a sua carreira.


Os Incompreendidos (Les Quatre Cents Coups), de François Truffaut. França, 1959, 99 minutos.



Conta a história do adolescente Antoine Doinel. Desprezado pela mãe e ignorado pelo padrasto, o garoto deixa de frequentar as aulas para ir ao cinema e sair com os amigos. Certo dia, é descoberto pelos pais e esbofeteado em frente aos colegas. Tempos depois, ao plagiar um texto de Balzac e se desentender com o professor, ele abandona a escola definitivamente e foge de casa. Na rua, passa a viver de pequenos furtos, é preso e conhece os métodos de violência dos reformatórios infanto-juvenis. O filme é quase um documentário autobiográfico, com várias ações retiradas da própria vida do diretor. A narrativa é acerca de um dos assuntos mais caros à Nouvelle Vague, técnica e existencialmente: a liberdade.

Criado pelos avós, Truffaut nasceu em Paris, em 1932. Após juventude conturbada, recebeu incentivo do crítico de cinema André Bazin, de quem foi secretário pessoal. Escreveu no periódico Ciné Club du Quartier Latin e na revista Cahiers du Cinéma. Em 1959, realizou Os Incompreendidos, seu primeiro filme. O longa-metragem, quase um retrato real da infância do diretor e uma das primeiras manifestações da Nouvelle Vague, concedeu a ele a Palma de Ouro de Melhor Direção no Festival de Cannes. Jovens problemáticos seriam vistos também em outros filmes do diretor, como O amor aos vinte anos (L'Amour à Vingt Ans), de 1962, e Beijos proibidos (Baisers Volés), de 1968. Após 25 anos de carreira, faleceu dramaticamente em 1984 devido a um tumor no cérebro.


Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima Mon Amour), de Alain Resnais. França/Japão, 1959, 90 minutos.



A história assinada pela escritora Marguerite Duras narra o encontro de uma atriz francesa e um arquiteto japonês nos anos 1950. Ela participa de um filme sobre a paz em Hiroshima, cidade recém arrasada pela bomba atômica. Durante uma noite com ele, relembra sua juventude na cidade de Nevers. No período, durante a Segunda Guerra Mundial, ela teve um romance com um soldado alemão assassinado pela Resistência. Na mesma noite, o arquiteto relata os casos de amigos e familiares mortos durante o bombardeio nuclear. Apaixonado, ele pede à atriz para não regressar à França e ficar com ele em Hiroshima. Com diálogos literários, fotografia realista e rompimento da linearidade narrativa, o filme é reconhecido pela crítica como o mais sofisticado e bem-acabado da Nouvelle Vague.


Resnais nasceu em Vannes, na Bretanha Francesa, em 1922. Estudou dois anos de Arte Dramática, porém teve de servir ao exército durante a Segunda Guerra Mundial. O período militar trouxe fortes implicações a seus filmes. Iniciou a carreira no cinema com curtas-metragens e documentários - o mais importante deles, Noite e nevoeiro (Nouit et Brouillard), de 1955, relata os campos de extermínio nazistas. Em 1959 dirige seu primeiro longa-metragem, Hiroshima meu amor (Hiroshima Mon Amour). A obra recebeu o prêmio internacional da crítica no Festival de Cannes. Entre os principais diretores da Nouvelle Vague, Alain Resnais é o único a não escrever os roteiros de seus filmes.


Quem Matou Leda? (À Double Tour), de Claude Chabrol. França/Itália, 1960, 110 minutos.



Se passa entre uma manhã e uma tarde do mesmo dia. Com o uso de flashbacks e vinhetas, o diretor apresenta um thriller de infidelidade, obsessão e assassinato em um vinhedo da Provance. Lá vive Henri Marcoux, pai de uma família completamente desestruturada. O filho, desequilibrado, é um voyeur incontrolável; a filha, noiva de um oportunista; a esposa, uma mulher sem atitudes diante da escancarada traição do marido, amante declarado da bela e jovem vizinha Leda. Mas a jovem é misteriosamente assassinada em sua casa e os personagens tornam-se suspeitos do crime. Inteligente, crítica e detalhista, a narrativa aborda a decadência das relações burguesas na França do pós-guerra. Nessa obra estão as principais características artísticas da Nouvelle Vague francesa nascente.


Filho de farmacêutico, Claude Chabrol nasceu em Paris, em 1930. Estudou Farmácia, Literatura e Direito. Foi publicista do escritório parisiense da 20th Century Fox e crítico da prestigiada revista Cahiers du Cinéma. Estreou na direção em 1958, com Nas garras do vício (Le Beau Serge) e, em 1960, com Os primos (Les Cousins). O primeiro filme recebeu o prêmio Jean Viga e o segundo, o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim. Ambos tornaram-se marcos da Nouvelle Vague. Nos anos 1960, produziu quase duas dezenas de filmes, entre eles obras memoráveis como Entre amigas (Les Bonnes Femmes), As corças (Les Biches) e O açougueiro (Le Boucher). Hoje, com 50 anos de carreira, Claude Chabrol é um dos mais respeitados cineastas de todos os tempos.


Pickpocket (Pickpocket), de Robert Bresson. França, 1959, 79 minutos.




Introspectivo e revoltado com a estrutura social, o jovem Michel começa a bater carteiras pelo prazer e a emoção de roubar. Com o tempo, o hábito torna-se uma compulsão. Michel é preso e, na cadeia, reflete sobre seus atos ao perceber o forte choque causado em sua família e amigos. Ainda assim, ao ser solto, une-se a um ladrão veterano e volta ao crime. Sua consciência pesa novamente, agora por ter se apaixonado por Jeanne, vizinha que cuida de sua mãe. Entre os dois nasce uma relação afetuosa, capaz de motivar o protagonista a abandonar a compulsão ao roubo. O filme é uma concretização das teorias de Bresson acerca do cinema: o diretor buscava acentuar a distinção da linguagem cinematográfica em relação a todas as outras.

Nascido em 1901, em Bromont-Lamothe, na França, Robert Bresson graduou-se em Artes Plásticas e Filosofia. Ao deixar a faculdade, trabalhou um breve período como pintor, porém desenvolveu grande interesse pelo cinema. Em 1934 dirigiu seu primeiro filme, o média-metragem Les Affaires Publiques. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi enviado como prisioneiro de guerra a um campo de concentração alemão, onde ficou por mais de um ano. De volta a Paris, dirigiu seu primeiro longa-metragem, Anjos do pecado (Les Anges du Péché), em 1943. Entre os filmes mais conhecidos de sua carreira estão as adaptações literárias, como o próprio Pickpocket, de 1959, vagamente inspirado em Crime e castigo, de Dostoievski. Em 1995 recebeu o prêmio René Clair, da Academia Francesa, pelo conjunto da obra. Em 1999 faleceu por causas naturais.


GRADE DE HORÁRIOS


Sexta-feira (1º de abril)
15h – Quem matou leda?
17h - Pickpocket
19h - Hiroshima, Meu Amor


Sábado (2 de abril)
15h – Pickpocket
17h - Quem matou leda?
19h - Os Incompreendidos


Domingo (3 de abril)
15h – Acossado
17h - Hiroshima, Meu Amor
19h - Quem matou leda?


Terça-feira (5 de abril)
15h – Acossado
17h – Os Incompreendidos
19h – Pickpocket


Quarta-feira (6 de abril)
15h – Hiroshima, Meu Amor
17h – Quem Matou Leda?
19h – Acossado


Quinta-feira (7 de abril)
15h – Os Incompreendidos
17h – Pickpocket
19h – Hiroshima, Meu Amor


Sexta-feira (8 de abril)
15h – Quem Matou Leda?
17h – Acossado
19h – Os Incompreendidos


Sábado (9 de abril)
15h – Pickpocket
17h – Hiroshima, Meu Amor
19h – Quem Matou Leda?


Domingo (10 de abril)
15h – Acossado
17h – Os Incompreendidos
19h – Pickpocket



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Fone: (51) 34331204 / 05
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quinta-feira, 3 de março de 2011

Contra as crenças e em nome da dúvida.


Impérios da crença.

Não faz muito tempo que acabei de ler “Impérios da Crença. Por que precisamos de mais ceticismo e dúvida no século XXI”, de Stuart Sim. O autor é professor de filosofia na Universidade de Sunderland, no Reino Unido e esse é o primeiro de seus livros a ser publicado no Brasil.
O tema é de primeira ordem. A abordagem do autor, bastante interessante, ainda que eu tenha sentido, ao longo da leitura, um certo desconforto com algumas simplificações e com algumas trivialidades que estão presentes em sua linha de argumentação. O primeiro objetivo do autor é confirmar a importância do ceticismo como forma de pensar legítima e necessária frente ao mundo contemporâneo, segundo a sua hipótese, cada vez mais dominado pelo pensamento dogmático, seja ele de natureza política, religiosa ou mesmo científica.
É satisfatória a sua defesa do ceticismo, que passa por uma boa análise das minúcias do conceito, a partir, em especial, de uma precisão de seu sentido e de seus significados ao longo da história. As aplicações do conceito, sob a forma da dúvida cético-cínica das autoridades de toda a natureza rende igualmente uma bela discussão. Em um momento em que avançamos em passos largos rumo a uma caretice sem fim, livros como esse dão um certo alento. Recomendo!