sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Por amor às...


Vivo em meio aos livros. Misturam-se, na minha relação com a página escrita, o prazer de leitor, as tarefas de professor e, eventualmente, o gesto de criá-los. Mas sou obrigado a dizer que poucas coisas são mais prazerosas do que a escolha, a compra e a leitura de um livro há muito desejado.

É curioso ver as diferentes maneiras pelas quais se manifesta o desejo pelos livros. Às vezes se trata de um livro raro, há muito tempo desejado justamente pela sua raridade, que transforma a sua busca em um jogo. Uma obsessão alimentada por várias visitas a sebos, por diversas navegações pelas páginas da Estante Virtual e que só se completa com a obra em minhas mãos.

Outras vezes, ao saber de um livro cuja existência eu desconhecia, sinto-me lesado. Penso sobre como havia vivido tantos anos sem saber da existência daquela obra, que no exato momento em que se abriu frente aos meus olhos revelou um universo extraordinário e ainda desconhecido. Ao ler pela primeira vez Céline ou Isaac Bábel, senti um misto de alegria pela descoberta e tristeza pelos anos que passei sem conhecê-los.

Por tudo isso, ao comprar um livro que não seja um mero objeto de trabalho mas sim um objeto de desejo, por mais que muitas vezes essas coisas estejam imbricadas, gosto de realizar alguns rituais. Ler as orelhas, a quarta capa, folheá-lo despreocupadamente, cheirá-lo.

Ao colocar as mãos no Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, tive uma misto de todas aquelas sensações e pude cumprir toda a minha ritualística. Que espera e que obra! Li sobre ele, pela primeira vez, nos anos 90, em uma entrevista concedida pelo Chico Buarque a revista Caros Amigos, o mesmo Chico que faz a apresentação da obra.

Fruto da dedicação do professor Ferreira, como gostava de ser chamado, o dicionário foi publicado pela primeira vez na década de 1950. Não se trata de um dicionário de significados de palavras, mas um dicionário de expressões análogas, pensado para auxiliar na escrita. Ele oferece o que é chamado, na apresentação da nova edição, de uma nuvem de palavras.

A obra é pensada para quem se delicia com a carpintaria da criação literária, com a busca da expressão mais exata para cada situação. Esta obra, que foi legada por Sergio Buarque de Holanda a seu filho, que dela se serviu para compor e escrever seus romances, volta às livrarias e torna-se acessível a todos nós.

A referência:

Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Dicionário analógico da língua portuguesa. 2 ed. atualizada e revista. São Paulo: Lexikon, 2010.

Um comentário:

  1. Caro amigo!!

    É um enorme prazer ter contato com você e principalmente através deste maravilhoso blog e olha esse texto ai descreve quase a minha pessoa quando vai adquirir um LIVRO...TUDO DE BOM né..!!
    Abraços

    ResponderExcluir