quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Elias Canetti


Sempre me perguntei sobre a recusa que marca a trajetória de Elias Canetti como escritor. Não se trata de uma recusa da escrita, ele sempre a exercitou, mas sim uma recusa do romance. Depois de Auto de Fé (1935), guinou suas atividades para o ensaísmo e para o memorialismo. São por demais conhecidos a trilogia de memórias e Massa e Poder (1960) para que eu os torture com a brevidade e com a tautologia de um comentário de blog.
A escrita para Canetti era um exercício constante. Milhares de páginas, no entanto, permanecem trancafiadas no anonimato exigido pelo seu autor. Somente aos poucos temos acesso aos seus escritos, aos seus excertos e as suas anotações. Chegaram ao Brasil em recentes traduções livros como as suas memórias dos tempos de exílio na Inglaterra e coletâneas de pequenos ensaios e excertos como Sobre a Morte e Sobre os escritores.
Este último, que acabei de ler, o recomendo muitíssimo. Nele, Canetti exerce uma arte de caracterização breve, do retrato e do juízo sintético sobre idéias e escritores como em poucos lugares poderíamos encontrar com semelhante grandeza. São pontos altos do livro os ensaios sobre Büchner e sobre Karl Kraus.

4 comentários:

  1. Tenho em casa "Auto-de-Fé" que acredito ser a primeira edição que saiu no Brasil. E mesmo bem interessante essa recusa do autor em relação ao romance, pois seu romance me impressionou muito pela forma como ele explorou o tipo de narrativa e pela crueza das relações humanas por ele traçadas (e rola uma identificação com a personagem Kien).

    Já vistes "A Onda"? Não é uma beleza de filme, mas tem ecos do "Massa e Poder" ali...

    Abração!

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  2. Caro Nathaniel. Ultimamente tenho lido muitos autores com certa ligação ao universo literário do qual, me parece, Canetti faz parte. Thomas Mann, Thomas Bernhard, Klaus Mann, entre outros. Em comum, uma boa dose de ceticismo e uma necessidade de acertar as contas e atacar o totalitarismo em todas as suas formas de menifestação. Ainda não vi "A Onda", pretendo fazê-lo em breve e, quem sabe, comentá-lo aqui.
    Abraço

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Do Thomas Mann eu tenho "A Montanha Mágica". Me interessou bastante as reflexões ao decorrer da narrativa sobre as diferentes formas que pode-se sentir o fluxo do tempo. Já leste (que pergunta... =p)? Foi um dos livros que eu mais demorei para ler devido a narrativa arrastada do autor, mas esta na minha lista dos melhores livros que já li. Ando a procura de "Os Brandebuques", que dizem ser um romance autobiográfico do T. Mann, mas a falta de verba impede a aquisição (e até agora não achei e-book).

    Dia desses li os contos do livro "O Urupês" do Monteiro Lobato e lembre de ti. ^^

    Abraço e esperando a possível resenha sobre o filme para discutirmos.

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