terça-feira, 3 de março de 2009

Sociologia da resenha

Há um bom tempo li um livro que acho genial (vou publicar em próximo post alguns comentários que escrevi sobre ele), de Lindsay Waters, sobre a situação das editoras acadêmicas hoje nos EUA. Se eles, que possuem uma tradição de publicações acadêmicas e de obras de referência de alto nível, estão de cabelos em pé, o que resta de nós?
Um tema que aparece nas queixas dele e que me interessa sobremaneira é a falta de crítica. E quando falo de crítica, falo0 no mais nobre dos sentidos dessa expressão, qual seja, o debate franco e necessariamente apaixonado de idéias, algo que parece, em nosso meio, impossível. Qualquer crítica é tomada como um ataque pessoal. Portanto, elas não acontecem. Nas raras vezes em que vemos um debate, ele acaba em ataques ad hominem. Nessa seara pedregosa, o que merece um olhar atento dos sociólogos da cultura é a indústria da resenha.
Sim, pois o volume de resenhas publicado a cada número de uma revista acadêmica entre nós beira o ultraje, tamanho o número de elogios e de afagos que o resenhado recebe. Isso se deve ao fato de a resenha, entre nós, haver se tornado um mercado de favores e de estratégias de aquisição de capital social.
A resenha é, em geral, escrita por doutorandos ou mestrandos que, via de regra, são efusivos em seus elogios a obra resenhada, obra escrita por algum medalhão de quem o sujeito que se inicia nas lides acadêmicas quer se aproximar.
Já no caso de resenhas assinadas por professores na ativa e com carreira bem constituída, entramos no campo das trocas de favores, de aproximações ou mesmo de uma gentileza oferecida a um colega.
Infelizmente, na média as resenhas com algum tipo de ressalva ou crítica a determinado autor e sua obra são obra de alguma vendetta. Fica a dica para algum bourdivine de plantão: a sociologia da resenha urge.

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