Ainda no primeiro semestre de 2012 José Guilherme Merquior estará de volta às livrarias do país. Já comentei isso de passagem no Facebook e volto ao assunto, mais uma vez sem o vagar merecido.
Indiscutivelmente, seu nome vem carregado de alguns preconceitos por parte daqueles que, mais velhos, acompanharam a sua trajetória. Os mais jovens, em sua maioria, não o conhecem. Nunca leram nada que ele tenha escrito, ele nunca será indicado por parte significativa de seus professores, restando-lhe o esquecimento.
Se eu ouvisse uma descrição objetiva e fria de Merquior, o mais provável seria não simpatizar com ele. Há alguns predicados irritantes. Protegido do lamentável Roberto Campos, apoiador, ao menos em um primeiro momento de Fernando Collor de Mello, além de ser um entusiasta do neoliberalismo. Pensando bem, no entanto, em que isso interfere em suas virtuosísticas análises de poesia, por exemplo? Digo isso porque ouvi, em mais de um lugar e de vários “intelectuais” algo como - vais ler esse cara, ele era um “direitoso” e blá, blá, blá, sem um argumento concreto, no melhor estilo não li e não gostei.
Para que possamos pesar bem as coisas, devemos também levar em conta as suas virtudes, algumas delas constantes desde a sua aparição para a inteligência brasileira, quando publicava crítica de poesia no Jornal do Brasil aos 18 anos. Acho, tendo lido vários de seus livros, que elas são maiores, mais profundas e mais decisivas do que esses defeitos que elenquei no parágrafo acima.
Crítico arguto de literatura, dono de um repertório sofisticadíssimo que ia da filosofia às artes visuais, da ciência política à crítica literária, com inúmeras paradas entre cada um desses portos, Merquior não fazia média, muito menos concessões quando se tratava de debater idéias. Era um polemista de peso, desses que não se vê mais circulando pelos suplemementos culturais dos jornais e pelas revistas de grande circulação, seu habitat natural. Escreveu nos maiores jornais e revistas do país, com regularidade e sempre “batendo forte”.
Vou salvá-los de meus elogios ao Merquior e deixá-los uma dose de sua acidez. Duas críticas, separadas por quase 10 anos, servem de amostra. Espero que a volta de suas obras aos leitores faça com que ele seja mais lido, até porque sigo ouvindo estudantes de letras afirmando que nunca leram uma linha do que ele escreveu. São dois artigos:
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O estruturalismo dos pobres*
José Guilherme Merquior
* Publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 27 de janeiro de 1974.
Se você quer estudar letras, prepare-se: que idéia faz você, já não digo da metalinguagem, mas, pelo menos, da gramática generativa do código poético? Qual a sua opinião sobre o rendimento, na tarefa de equacionar a literariedade do poemático, de microscopias montadas na fórmula poesia da gramática/gramática da poesia? Quantos actantes você é capaz de discernir na textualidade dos romances que provavelmente (tres-)leu? E que me diz do “plural do texto” de Barthes – é possível assimilá-lo ao genotexto da famigerada Kristeva? Sente-se você em condições de detectar o trabalho do significante no nouveau roman, por exemplo, por meio de uma “decodificação” “semannalítica” de bases glossemáticas? Ou prefere perseguir a “significância”, mercê de alguns cortes epistemológicos, no terreno da forclusão, tão limpidamente exposta no arquipedante seminário de Lacan?
Mas não, nem tudo é assim tão difícil: não me diga que acha duro compreender Abraham... Moles! Aliás, esse esoterismo não se restringe ao campo literário; estende-se à filosofia, ameaça a área inteira das ciências humanas. Hoje em dia, até os primeiranistas de jornalismo aprendem a questionar o Ser através de “colocações” heideggerianas, com grande luxo de trocadilhos etimológicos tão solenes quanto ridículos (os heideggerianos não tomaram conhecimento da arrasadora crítica de Nietzsche à falsa “profundidade” em filosofia).
E se você acha o estruturalismo uma parada, é pura ingenuidade sua: talvez você não saiba que o velho estruturalismo está superado, tão superado quanto a estilística; o estruturalismo vieille école faleceu em 1968, assassinado por Chomsky e pelo movimento de maio. Você não viu A Estrutura Ausente, do Umberto Eco? ... Já está circulando, traduzida para uma língua vagamente aparentada com o português. Compre logo, e leia se puder: porque quem não se informa não comunica, e quem não comunica se estrumbica, conforme adverte o sábio Chacrinha (cada povo tendo o Mc Luhan que merece).
Graças ao “estruturalismo” no seio das humanidades estrepitosamente tornadas “científicas”, vinga e prospera o mais franco terrorismo terminológico. A seu lado, todavia, pontifica um não menor “terrorismo metodológico” (Starobinski). Pois o estruturalismo é o paraíso do Método; a nova crítica, por exemplo, se alimenta do mito do Modelo mecanicamente aplicável. Pós-graduandos incrivelmente ignaros, outrora incapazes, por simples analfabetismo, de empreender a interpretação de obras pejadas de referências culturais, agora se entregam sem nenhuma inibição à volúpia de aplicar a torto e a direito modelos “científicos” de análise. O Método está ao alcance de todos (em módicas prestações); e “o crítico é o seu método”, sentencia com fervor um dos mais recentes oficiantes do culto estruturalista. A interpretação literária se converte numa espécie de gincana: o negócio é acumular as “leituras” segundo São Propp, São Greimas, São Todorov, São Genette et caterva, a menos que se venere o guru supremo da sofisticação lingüística, o staretz do M. I. T., Roman Jakobson, para quem poesia é pura combinatória verbal, e o único aspecto referencial extralingüístico digno de atenção na literatura se limita a sua relação com as demais artes (cf. JAKOBSON, Roman. “Questions de Poétique”. Paris, Seuil, 1973, p. 145-151).
Não existe um estruturalismo: existem no mínimo vários, tão diferentes na inspiração quanto no grau de consistência dos seus resultados. A ninguém ocorreria comparar a sério pesquisas do porte da história das religiões comparativas de Dumézil, em quem a revolução antropológica levi-straussiana reconhece um estruturalista avant la lettre, com as gratuitas elucubraçõezinhas de Genette ou Todorov; e seria altamente injusto equiparar a problemática de um Foucault aos graciosos arabescos especulativos, totalmente despojados de gume sociológico, de Althusser e sua súcia. Mas é em vão. O estruturalismo mítico subjuga todas as denúncias, repele todas as discriminações e usurpa o magistério humanístico. Como esperar da Ciência redentora que atenda às recriminações dos “passadistas”? ... No máximo, o Saber estrutural se limita a devorar seus ídolos. Lévi-Strauss já era; viva Lacan!... Quanto a Jacques Derrida, derrubou com galhardia o próprio totem do novo credo: Saussure em pessoa.
O mito da Ciência se expande, mas o senso de objetividade declina. Voltemos ao caso da crítica literária. Naturalmente, a crítica estruturalista sempre exorta gravemente a “ir ao texto”. Na realidade, porém, a penúria de exames objetivos, a indigência de análises genuinamente imanentes, tem sido a regra. Segundo a censura insuspeita de Lévi-Strauss, a crítica dita estrutural sofre de crônico ventriloqüismo: em vez de avançar, laboriosamente, na inteligência do texto, projeta quase sempre nele as fantasias teórico-metodológicas do crítico parisiense (ou de seus entediantes discípulos). Como o fetichismo do método “científico”, a mística da “textualidade” mal encobre a grossa arbitrariedade das interpretações. Apesar de sacralizado, o texto vira mero pretexto... “Tia” Estilística, essa excelente senhora tão caluniada, era bem mais sensível, bem mais escrupulosa, em face do discurso poético.
É certo que a estilística era praticada por gente da sensibilidade e da cultura de um Spitzer, um Auerbach ou um Augusto Meyer, e não por universitariozinhos tecnocráticos de consternadora estreiteza mental, como T. Todorov ou esses sinistros jakobsonianos tupiniquins. De acordo com a doutrina estruturalista, a superioridade de um Jakobson, em relação a Spitzer e Auerbach, reside no método. Essa supervalorização do método espelha uma crendice típica – a de achar que Jakobson, por ser um dos pilotos da revolução científica na lingüística, é também automaticamente “científico” quando pia no terreno da crítica, onde, aliás, não é raro vê-lo “sacar” tranqüilamente a propósito de assuntos em que não goza de nenhuma autoridade especial, como, por exemplo, história da arte. Mas essa repugnância em reconhecer a diversidade de jurisdição dos setores – lingüístico e literário (diversidade que não exclui, bem entendido, a existência de importantes relações entre ambos) – não tem absolutamente nada de científica. A história se repete: no estruturalismo, como ontem no positivismo, o mito da Ciência violenta os próprios hábitos, e o próprio rigor, da verdade ciência.
O pedantismo e a esterilidade estruturalistas assolam Paris. Tanto assim, que já se observa o esboço de uma sadia reação. Serge Moscovici, por exemplo – autor do notável “La societé contre Nature” –, acaba de passar uma espinafração em regra nos “epistemocratas”, esses viciados num coquetel bem parisiense: a “batida” de gauchisme irresponsável com bizantinismo intelectual. E até o Anti-Édipo de Deleuze e Guattari, flor da sacação pós-estruturalista, já vem sendo considerado uma regressão, descabeladamente metafísica, a posições pré-(e não pós-, como pretendem seus autores) freudianas.
Entre nós, porém, a praga atua de modo mais daninho. O pedantismo da “matriz” (cinqüenta anos depois da explosão ao mesmo tempo nacionalizante e universalista do modernismo, voltamos a macaquear abjetamente os piores aspectos da cultura francesa), o abuso agressivo de terminologia superfluamente hermética em lugar do real trabalho de análise, quase nunca depara, neste Brasil de jovens e precaríssimas universidades, com a resistência da pesquisa séria e do ensino crítico. Ao contrário: como as universidades “brotam” agora (numa expressão demasiado rápida para ser levada a sério), e os ignorantes se diplomam e se doutoram às centenas, a arrogância intelectual mais oca e mais inepta se dá facilmente ares dogmáticos de ciência exclusiva. No entanto, os sacerdotes do Método não sabem sequer português. Nossa ensaística atual é o paraíso do solecismo, o éden do barbarismo. Se você encontrar um título sobre “escritura”, não creia que se trata de uma obra para tabeliães: trata-se mesmo é de “écriture”, que os nossos preclaros estruturalistas não sabem traduzir por “escrita”... ¹
A estruturalice nacional se proclama revolucionária. Como certos vanguardismos paranóicos, que, por mais que se digam ferozmente antiacadêmicos, jamais conseguiram disfarçar sua natureza de subversõezinhas tão vazias quanto ritualísticas, sempre consentidas, quando não programadas, pelo establishment cultural, o estruturalismo corteja a fraseologia da ruptura. Contudo, por trás dessa belicosidade ideológica, podemos vislumbrar uma conivência bem conformista com a situação crítica da intelligentsia latino-americana e, em particular, com a crise da educação superior. Não é por acaso que o ator ou espectador por excelência do festival estruturalista é o aluno ou ex-aluno da universidade massificada; da universidade que, desejando-se socialmente antielitista, por fidelidade ao imperativo da democratização do ensino, vem destruindo, consciente ou inconscientemente, o outro elitismo da universidade tradicional – o seu legítimo aristocratismo intelectual.
O fetichismo dos métodos simplistas, a superstição mais do que ingênua da “cientificidade” incomprovada (patente no fascínio pelos modelos lingüísticos como panacéia hermenêutica), o prestígio do palavreado abstruso, o servilismo bobo diante das fontes estrangeiras erigidas em oráculo mítico, numa palavra, todos os semblantes do “terror” estruturalista possuem o mesmo pressuposto – a rarefação do espírito crítico cansada e estimulada pelo abaixamento intelectual da universidade, no preciso instante em que esta se lança a abranger ou incorporar a quase totalidade do trabalho literário e erudito. Não é à toa que a universidade brasileira menos atraída pelo delírio estruturalóide – a USP – é a mais sedimentada, a mais amadurecida das nossas instituições do gênero.
Para o lukacsiano Carlos Nelson Coutinho, a voga estruturalista (em que ele não distingue o joio do trigo) é pura ideologia burguesa – a ideologia dos anos prósperos e doces da sociedade de consumo, “filosofia” sucessora da onda existencialista, que teria sido um reflexo das angústias do pós-guerra. Será?... Essa interpretação que ignora candidamente os avatares da alienação ideológica nas sociedades não-capitalistas, joga com correlações macro-sociológicas muito pouco mediatizadas. Qualquer que seja a dialética entre a estruturalice e a evolução social global, tudo indica que ela passa pela dinâmica interna da intelligentsia e de seus âmbitos institucionais, o primeiro dentre estes sendo, nestes tempos de “revolução educacional” (T. Parsons) a universidade. E é essa dinâmica interna – posta em conexão com os notórios defeitos e deficiências dos processos de vida intelectual no Brasil – que parece explicar os aspectos teratológicos do clima estruturalista no arraial literário, filosófico e (lato sensu) sociológico. Uma coisa é certa: dos estruturalismos europeus, a variante verde e amarela tende decididamente a desconhecer o que têm de positivo, e a agravar o que trazem de mau. Entretanto, se, ao exacerbar as taras do seu paradigma parisiense, o estruturalismo dos pobres é caricatura, ao denunciar fidedignamente as distorções do nosso ambiente universitário, ele se faz retrato. Por isso, se o “estruturalismo” é, em si, uma inutilidade, muito útil se torna estudar as condições de florescimento do estruturalismo dos pobres – o que é a melhor maneira de desmistificá-lo.
Nota:
1 – Bem sei que escritura, em português, é também sinônimo de escrita; aparece precisamente nesse sentido até num antigalicista feroz como Filinto Elísio (Carta ao amigo Brito, versos 9 e 34). Tratando-se, porém, de uma acepção em desuso, não seria ingênuo supor – quando ela ocorre em textos inçados de “decodificações”, “literariedades” e outros francesismos gratuitos – que a palavra resulta de uma escolha estilística, e não da ignorância do vernáculo por tradutores de meia tigela?
A lepra lingüística*
José Guilherme Merquior
*Publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 4 de janeiro de 1983.
Outro dia um locutor da rádio “cultural” de Brasília apresentou uma peça de música barroca dizendo que seu título era “A Rainha de Sheba” – pronunciando, naturalmente, “xeba”. Poucos meses antes, o público da televisão assistiu a um filme dublado em que Rex Harrison, fazendo o papel do papa “Julius” II, voltava de uma viagem à “Rumânia”... e enquanto isso, uma outra película dublada, se não me engano uma história de James Bond, classificava de “feudos” sangrentos os conflitos entre duas organizações mafiosas. Alguém precisa realmente cuidar um pouco mais da nossa pobre língua – nosso principal instrumento de pensar e de viver – e impedir que semelhantes absurdos tenham o livre curso que vêm tendo, aos montes, em nossos meios de comunicação de massa.
É claro que a tarefa não é fácil. Afinal, vivemos num país onde mesmo as pessoas sofisticadas acham feio dizer “Genebra” e insistem em usar “Genève”, embora massacrando, sem querer, bem entendido (é a punição dos esnobes), a pronúncia francesa. E acham muita graça na generalização de mulambos sintáticos como “Você receberá tudo que tem direito” ou “O esforço a que o candidato se propõe” ou em contra-sensos semânticos do tipo “o comitê organizador da feira preparou o evento”. Ninguém se incomoda muito com o estado da língua, e menos que todos os milhares e milhares de bárbaros e solecistas que ganham, cada ano, diplomas em profusão. A gente chega até a sentir certo complexo de culpa, e a tentação de indagar se não está sendo muito “elitista” com esse tipo de exigência...
Na minha infância, porém, como na minha adolescência, qualquer ex-colegial, como suponho o seja o nosso locutor radiofônico, sabia que “Queen of Sheba” é “Rainha de Sabá” – ao passo que ele, coitado, só sabe (e já é muito) que “queen” é “rainha”. O papa era conhecido como Júlio, não como “Julius”, e nunca foi à Rumânia, ou, melhor dito, Romênia e sim à Romanha (Romagna), região do centro-leste da Itália. Em suma, cada pessoa medianamente educada que lidava com o inglês ou o francês conhecia razoavelmente duas coisas: o português, e a chamada cultura geral, aquela tal que “fica quando se esquece tudo mais” e serve ao menos para que seu detentor não passe vergonha. Quase nulo era o risco, há apenas vinte anos, de que um tradutor vertesse “laissez-faire” por “deixe estar” – sim, leitor, não esfregue os olhos: “deixe estar”, tal como se pode ler no volume “Raymond Aron na UnB” – uma universidade que publica anualmente uma verdadeira pletora de traduções, mas se obstina em considerar de somenos garantir um nível mínimo de correção lingüística a seus textos.
Nem se veja nessa crítica um puro lamento “social” – algo assim como o constante sobressalto de nossas elites mais antigas ante as sucessivas ondas de “parvenus” sem maneiras, da “turma que toma sopa de garfo”, como se diz, graficamente, no Sul. A maior vítima da nossa tragédia em matéria de cultura lingüística não é a elegância do falar – é, pura e simplesmente, a eficiência da comunicação. Pouquíssimos os que ainda sabem fazer um relato (quanto mais um relatório) decente, objetivo e articulado; pois a ruína da sintaxe acompanha a penúria do léxico. Nas empresas, nos governos, voltamos – em plena era da alfabetização maciça – ao princípio da Renascença, quando os serviços dos raríssimos letrados profanos (os humanistas) eram disputados como talentos ultravasqueiros... Quem ignora que, no Rio de Janeiro, prosperam “fábricas” de teses de pós-graduação, encomendadas a peso de ouro por mestrandos e doutorandos semi-analfabetos? E já há casos de chefes de departamentos de letras ainda rigorosamente virgens de qualquer comércio mais íntimo com a gramática da regência e da concordância. Um deles, emérito lacaneta.
A mais insigne monstruosidade perpetrada contra a educação brasileira – o vestibular unificado, sem redação – está na raiz da nossa lepra lingüística. Mas é preciso frisar que o mal reside na cultura (e no sistema educacional) e não no próprio idioma. Como sistema lingüístico, o português continua a demonstrar notável aptidão para o enriquecimento e a renovação, conforme vem registrando o Aurélio e vêm notando destacados estudiosos nacionais e estrangeiros, a começar (do lado de cá) por um Celso Cunha ou um Antonio Houaiss. A língua é rica e plástica; a fala (no sentido de Saussure, e portanto, tanto oral quanto escrita) é que anda pobre e trôpega. De resto o fenômeno sofre a inevitável refração imposta pela amplitude e variedade do Brasil, capaz de fazer com que a gente pobre de São Luís se expresse, em média, infinitamente melhor do que a juventude burguesa de Copacabana ou Belo Horizonte. Compete a todos nós concitar os poderes públicos e as autoridades do ensino a pôr cobro a essa situação alarmante, em que a práxis cada vez mais barbarizada do português ameaça relegar a opulência e cultura da nossa linguagem ao estado de uma “reserva” aristocrática – espécie de latim do espírito, sem nenhuma correspondência prática no cotidiano da vida social.